CENA 1: Valéria fica preocupada com a proximidade do retorno de Giovanna e Hugo procura tranquilizá-la.
-Amor... pra que ficar com essa cara de quem viu assombração?
-Hugo, ocê sabe melhor que eu que essa mulher é uma descontrolada.
-Eu sei disso. Mas ela tirou férias. Deve estar numa boa.
-Posso te perguntar uma coisa?
-Claro que pode...
-Das outras vezes que ela saía de férias, como ela voltava? Pensa bem antes de me responder isso, viu?
-Bem, eu... nunca reparei muito nisso. Ela sempre foi assim... meio assertiva demais.
-Em que sentido, especificamente? É muito vago ocê dizer que a Giovanna é assertiva. Isso pode significar várias coisas.
-Bem... ela sempre foi de ir atrás do que e de quem ela quer.
-Sei. E por acaso ela teve em algum momento algum escrúpulo que a refreasse de passar por cima de alguém, por exemplo?
-Sinceramente? Giovanna não sente dó de ninguém. Sabe fingir dó. Mas não sente.
-É isso que me preocupa, Hugo. Você às vezes é ingênuo demais. Não vê maldade nas pessoas. A Giovanna foi cruel com a Cristina quando foi atrás dela depois que a Cris fugiu de casar com você. E sabe de mais uma coisa? Eu acho que ocê devia ter aproveitado esse incidente todo pra falar toda a verdade de uma vez, entregar todos os detalhes sobre o caso que ocê teve com essa doida...
-Mas amor... não era simples desse jeito!
-Tá... eu sei, tinha a dona Bernadete, que tava doente ainda.
-Além disso, tinha toda a questão de o casamento cancelado no altar já ser suficientemente escandaloso.
-Pra quem, pro seu pai? Porque a sua mãe não é de se importar muito com esses trens de reputação.
-Valéria... e a Natural High? E o fato de que, querendo ou não, a Giovanna ainda é minha principal sócia e uma das fundadoras da agência? Nada disso pode ser ignorado.
-Mas nem eu tou dizendo p'rocê ignorar.
-Então tá me pedindo exatamente o que?
-Pra abrir o olho com a Giovanna. Cuidar bem o que diz perto dela.
-Precisa de tudo isso?
-Acho que precisa, sim. Me surpreende ocê não perceber que precisa se manter invisível diante dela.
-Você diz em relação a nós?
-Mas é óbvio! Quantas vezes vou te repetir pra ver se você lembra que ela me ameaçou quando a gente nem tinha nada ainda? A Giovanna fareja longe, Hugo. Ela sente o perigo rondando. E pode atacar nós dois...
-Cê acha que ela pode fazer alguma maldade com nosso filho?
-Credo, Hugo! Bate na madeira! Claro que eu tenho medo disso... mas prefiro acreditar que ela não seria capaz de chegar a tanto. Agora que ocê falou disso, fiquei até com medo...
-Não fica, Valéria... não falei por mal... desculpa, amor.
-Tá tudo bem, Hugo... a gente tá tentando descobrir um jeito de se manter longe dos olhos da Giovanna.
-Ainda acho que ia ser mais honesto e correto a gente abrir o jogo de uma vez com ela.
-Correto e honesto ia ser, sim. Mas me responde com sinceridade, amor: ocê acha mesmo que isso ia ser seguro?
-Bem... sinceramente? Não acho. Eu achei que conhecia a Giovanna. Até ela começar a dar alteração...
-É a isso que me refiro, Hugo. Essa mulher não é só uma simples descontrolada. Ela é inteligente pra danar. E isso pode ser bem negativo, se é que ocê me entende.
-Pode ser que sim. Mas...
-Mas o que, Hugo?
-Não acho que ela represente esse perigo todo.
-Só promete que vai tomar cuidado?
-Prometo...
-Então tá resolvido. A gente só tá livre pra ser casal aqui em casa. Nos outros lugares, toda a discrição ainda é muito pouco.
CORTA A CENA.
CENA 2: Horas depois, a pedido de Flavinho, Gustavo surpreende Valéria ao bater em seu quarto.
-Mano? Ocê nem disse que vinha...
-E eu não vinha, mesmo.
-Aconteceu alguma coisa?
-Não. Na verdade, eu que te pergunto.
-Ah... eu não acredito que o Flavinho te ligou pra falar da conversa que eu tive com ele e ainda pediu p'rocê vir aqui.
-Ligou mesmo. Mana, sou eu, o Gustavo, esqueceu?
-Só que ocê já tem seus problemas. Não acho justo perder tempo ouvindo minhas merdas.
-Ocê não se faça de besta, caçulinha! Te amo, viu? Pode desabafar com seu mano véio.
-Essa mulher, Gustavo... eu morro de medo dela. E agora ela tá pra voltar da Finlândia, sabe?
-Essa tal de Giovanna, né? Vi uma ou duas vezes, mas não fui com a cara.
-Tá vendo? Ocê que é escorpiano e manja de sacar as pessoas, já viu que ela não presta. Ela controlou a vida e os passos do Hugo durante mais de doze anos, entende? Eu não acho possível que ela tenha desistido tão fácil dele. E essa volta dela tá me deixando de cabelo em pé, porque algo me diz que ela vai vir com tudo, cair matando.
-Ah, mana... se isso acontecer, o jeito é se virar.
-E eu? E o Hugo? E o meu filho? Ele não pode ficar sem um pai agora, já que o biológico deu no pé... eu tenho muito medo do que essa mulher pode fazer se descobrir que eu e o Hugo estamos juntos. Ela me intimidou quando eu nem tinha nada com ele, ainda! Imagina se descobre? Tá feita a desgraça...
-Eu fico triste, mana... deve ser uma barra imensa esconder o amor... não me acostumei a isso na vida. Sempre fiz questão de ser livre...
-Falando em liberdade, seu Gustavo... quer dizer que o Flavinho estala os dedos e ocê vem correndo pra onde ele chama?
-Ah, não, mana! De novo, isso? Eu vim te ver, fiquei preocupado.
-Tá querendo enganar a si mesmo, mano? Porque a mim não engana.
-Ocê tá duvidando que eu me preocupei com você?
-Não, bobo. Mas você aproveitou pra vir ver o Flavinho. Ou então eu não nasci no dia de Iemanjá...
-Mana, por favor... esse papo aqui não.
-Tá vendo? Se esquivou. E eu sei bem o que essa esquiva significa...
Gustavo fica constrangido. CORTA A CENA.
CENA 3: Patrícia liga para Daniella.
-Miga, tou atrapalhando?
-Não, Pati. Não tenho ensaio por agora... tá precisando falar?
-Na verdade, sim... quer dizer, quero te perguntar um troço.
-Fica à vontade.
-É sobre a possibilidade de eu buscar tratamento.
-Sério? Que maravilha, amiga! Coisa boa saber que cê tá disposta a se melhorar pra vida!
-Ei, muita calma nessa hora, Dani... eu não disse ainda que vou me tratar.
-Como?
-Eu tou considerando a possibilidade. Mas prefiro acreditar que não estou louca.
-Pati, querida... eu já disse que buscar acompanhamento psicológico ou psiquiátrico não é atestado de loucura. A própria normalidade é um conceito bem relativo e flexível.
-Sei... isso me parece mais com desculpa pra suavizar a loucura alheia...
-Tá, que seja... que ajuda cê tá querendo?
-Queria saber se ocê conhece alguém.
-Oi?
-É... alguma psicóloga, psicólogo, psicoterapeuta... alguém a quem eu possa procurar pra fazer uma... como é que chama?
-Triagem?
-Isso!
-Miga... eu até conheço. Mas você precisa ter em mente uma coisa, Pati...
-O que?
-Que os profissionais não estão te julgando.
-Mas não é o serviço deles?
-Não, sua boba... psicólogos não julgam. Não nesse sentido comum. Cê quer os nomes que eu tenho a indicar?
-Por favor, Dani...
-Eu vou te passar. Mas pode ser por escrito? É que além de ser fácil pra identificar os profissionais pela grafia dos nomes, vou poder mandar por mensagem todos os contatos de cada um deles.
-Por mim, tá tudo ótimo. Cê pode me mandar até o final do dia?
-Mando assim que desligar. Fica sossegada.
-Obrigada por tudo, Dani... principalmente por não desistir de mim...
CORTA A CENA.
CENA 4: Idina e José chegam à casa de Maria Susana para buscar Miguel.
-Oi, queridos. Miguel tá lá, jogando com os amiguinhos online mais uma vez. Vou chamar ele, tá? - fala Maria Susana.
-Então, Susi... não precisa ter pressa de chamar o nosso filho, ainda mais quando ele tá jogando... - fala José.
-Sabe o que é, Maria Susana? Eu e o Zé conversamos sobre o seu namoro com a Bete, que aliás, achamos maravilhoso e damos todo apoio, então nós concluímos uma coisa... - fala Idina.
-Ai, gente... cês não tão pensando em conversar com o Miguel sobre isso, né? Ele ainda vai fazer sete anos... - fala Maria Susana.
-Falar não seria bem a opção que temos em mente. Mas ir acostumando o Miguel à presença da Bete na sua vida. Fazer ele entender naturalmente e sem encucações que você e ela se amam, entende? - fala Idina.
-Então a gente pensou que cê podia chamar a Bete pra passar o dia com a gente. Não hoje, evidentemente. Mas num sábado ou domingo... ou um dia vago que possamos passar todos juntos... - prossegue José.
-Ai, gente, será? É claro que eu gostei da ideia e fiquei empolgada, mas... ele é só uma criança entendem? - hesita Maria Susana.
-E quando é que ele vai aprender a respeitar a diversidade e a liberdade das pessoas de amarem quem elas quiserem amar? A infância é a melhor fase, minha amiga... - estimula Idina.
-A Idina tem toda a razão, Susi... eu sou exemplo vivo que se meus pais tivessem prestado mais atenção no que eu tava aprendendo, talvez eu tivesse me libertado antes de preconceitos... ou nem os tivesse adquirido... - complementa José.
-Bem... nesse caso, eu posso ligar agora mesmo pra Bete e falar dos planos... - fala Maria Susana, empolgada.
CORTA A CENA.
CENA 5: Ainda visitando Valéria, Gustavo desabafa com irmã sobre Patrícia.
-Então foi isso, mana... a Dani veio, toda apavorada, me alertar que a Pati pode estar fora de controle.
-Pode estar? Sempre esteve, Gustavo. Eu fui burra de não ter percebido antes e ter passado seus contatos na inocência. Ela pode até ser uma pessoa que não tem maldade deliberadamente, mas é capaz de fazer muito mal, sim... precisa se tratar.
-É isso, mana... e eu fico com medo que ela possa fazer algo de grave.
-Uai, mas com quem? Ocê não me disse que a conversa dela com a Dani foi complicada porque ela disse que não te aceitaria com outro cara? Até onde eu sei, não tem um cara na sua vida...
-Mas não posso sentir medo? Aliás, nem é só medo, Valéria... é um pouco de revolta de ter minha liberdade cerceada.
-Francamente, Gustavo... a sua liberdade só vai ser cerceada de fato se ocê continuar permitindo que uma descontrolada dite os passos que ocê pode dar ou não.
-Não é uma questão simples.
-Como que não? Mano, pres'tenção que foi você mesmo que permitiu isso.
-Sim, mas não é de hoje. Tem muito tempo isso. Não é fácil desfazer.
-Pois eu vou te dizer de um jeito bem direto: ocê só vai estar completamente livre pra amar quem quiser no dia que a Patrícia procurar tratamento e melhorar. Antes disso, acho difícil essa tensão diminuir.
-Duro é perceber que isso é verdade, mana...
-Então agora é torcer pra essa doida reconhecer que precisa de ajuda, porque se não for assim... sei não...
CORTA A CENA.
CENA 6: Elisabete visita Maria Susana e conversa com ela a respeito do que foi falado mais cedo entre Maria Susana, José e Idina.
-No final das contas, eu achei sensata a proposta deles, Bete... o que cê achou?
-Não vou mentir: adorei. Claro que a gente vai precisar ter um cuidado com os gestos, com os termos, pelo menos por um tempo.
-A Idina acha que o Miguel não deve ser poupado de ver que eu amo outra mulher.
-Eu até concordo com ela, mas a gente precisa pensar numa outra questão.
-Que questão, querida?
-O meio escolar.
-Verdade... me empolguei e acabei nem pensando nisso.
-Cê não me disse que seu filho é de falar tudo sem rodeios?
-Justamente por isso. Ninguém segura a língua dele.
-Ah... entendi. Isso pode significar que ele pode sofrer com o preconceito dos coleguinhas.
-Exatamente, Bete. Ele é pequeno demais ainda. Imagina se batem nele? Eu viro uma leoa!
-Bem, olhando por esse lado...
-Eu quero muito que a gente passe um fim de semana juntas. Pra ir acostumando ele.
-Eu também quero...
-Só que a gente precisa ter esse cuidado...
-Até quando?
-É provisório... eu prometo que é provisório.
-Aos poucos tudo vai indo pro lugar. Até mesmo pra nós duas, né? Acho que a gente não se acostumou a tudo isso.
-Eu tenho certeza que não... demora pra me cair a ficha de que somos namoradas. Mas tou adorando tudo isso!
CORTA A CENA.
CENA 7: Bernadete vai até o quarto de Valéria.
-Ocupada, querida?
-Nada... tava meio distraída, só.
-Eu queria conversar com você.
-Aconteceu alguma coisa?
-Até onde sei, não. Mas quero saber de você...
-De mim? Não tou entendendo, Bernadete...
-Tenho percebido que cê anda tensa. Parece sentir medo de alguma coisa.
-Besteira... deve ser impressão sua.
-Cê vai me negar que anda nervosa, olhando no meu olho?
-Tá... tá certo, Bernadete... eu ando meio estressada. Mas não tem nada acontecendo.
-Será?
-Eu juro que não. Deve ser variação hormonal, coisa da gravidez.
-Se você estivesse irritadiça, talvez eu suspeitasse disso.
-Por que?
-Porque eu fiquei irritadiça na gravidez do Leo... e não ando te percebendo assim.
-Ah, bobagem... cada mulher reage de uma maneira diferente, não?
-E por que eu continuo vendo essa tensão no seu olhar? Quase dá pra tocar...
-Deve ser só ansiedade, Bernadete...
-Sei. Se precisar desabafar, lembra que tou sempre por perto, viu?
-Pode deixar...
CORTA A CENA.
CENA 8: Após acompanhar primeira ultrassonografia de Cristina, Fábio a acompanha no corredor da clínica, emocionado.
-Muito obrigado por me proporcionar esse momento tão único...
-Nem tem o que agradecer, Fábio.
-Como que não? Isso é um grande presente.
-Você é pai desse bebê, ué. Tem todo o direito de acompanhar a gravidez e o desenvolvimento dessa criança.
-Mas você não tinha a mínima obrigação de me chamar pra acompanhar o pré-natal.
-Pra mim é uma questão ética, Fábio.
-Viu? Apesar de todas as mágoas, alguma coisa ficou.
-Fábio... não começa a viajar nisso, sério.
-Como não?
-Eu te chamar pra acompanhar o desenvolvimento do seu filho não significa que eu esteja disposta a reatar.
-E eu disse isso?
-Deu a entender... o que dá no mesmo.
-Não, não dá no mesmo.
-Ai, isso me confunde.
-A mim também...
-Bem... eu preciso voltar ao trabalho, porque as minhas contas não se pagam sozinhas.
-Obrigado por tudo, Cris...
CORTA A CENA.
CENA 9: Hugo chama Mônica e Glória à sua sala.
-Precisando falar com a gente? - pergunta Mônica.
-Sim. Eu vou precisar que vocês duas segurem as pontas pelo resto do dia. - fala Hugo.
-Tá acontecenco alguma coisa, Hugo? - questiona Glória.
-Não. Fiquem sossegadas. Se tou indo embora mais cedo hoje, é justamente pra dar tempo de evitar que alguma coisa aconteça. - fala Hugo.
-Que enigmático, isso... - fala Mônica.
-Eu saquei a razão. Depois eu explico melhor pra você, Mônica. Cê vai agora, já? - fala Glória.
-Sim. Foi por isso que chamei vocês duas aqui. Pra que a gente possa ver como vão ficar distribuídas as tarefas restantes do dia... - prossegue Hugo.
Os três conversam. CORTA A CENA.
CENA 10: Hugo e Valéria namoram no quintal da mansão.
-Adorei que ocê veio mais cedo, Hugo...
-Fiz meu melhor pra isso.
-E fez foi bem, viu? Amei que a gente vai ter mais tempo junto hoje...
-Mas também vim porque a gente precisa definir aquela coisa...
-Ah, isso é verdade. A doida tá pra voltar a qualquer momento...
-Exatamente.
-Quer saber? A gente pode falar sobre isso depois. Tá tão bom aqui... eu e você... ei, cê escutou a campainha tocar?
-Eu? Não... acho que cê tá ouvindo coisa, Valéria...
-Ai, sim... eu preciso largar de ser tão desconfiada.
-Também acho.
-Chega de falar. Me beija, Hugo...
Nesse momento, Giovanna, que havia surgido de surpresa na mansão, anda em direção ao quintal, depois que Leopoldo a recebe. Giovanna traz uma pequena caixa em suas mãos. Ao chegar no quintal, percebe que Hugo e Valéria estão se beijando.
-Eu não posso acreditar... esses dois pilantras me enganaram o tempo todo e eu não sabia de nada? Traidores... traidores!
Giovanna treme de raiva. FIM DO CAPÍTULO 79.
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