CENA 1: Gustavo estranha afirmação de Daniella.
-Mas espera aí... ocê não disse esses tempos que ela tava de boa com a gente ser amigo? Até eu me dispus a dar uma chance pra ela, conversei e tudo... não tou entendendo isso.
-E você acha que euzinha mello tou entendendo? Eu pedi pra Pati não insistir no assunto, tentei cortar, não dei corda... mas ela insistiu até falar, de um jeito ou de outro. E eu fiquei honestamente assustada com o fogo que eu vi crepitando nos olhos dela.
-Era ódio?
-Não sei bem, Gustavo. Mas não era uma coisa boa.
-O que ocê acha de tudo isso? Eu sei que ocê sempre cria uma teoria... e eu quero ouvir. Fiquei assustado, na boa.
-Pelo que eu pude perceber, Gustavo... a coisa pode ser grave. Ela falou de um jeito que eu tive a nítida sensação de que ela admitiria qualquer mulher no lugar dela, mas jamais um homem. E eu tenho medo do que ela possa ser capaz de fazer, pra ser bem sincera. É como se o fogo dos olhos dela dissessem que ela nunca vai aceitar que um homem possa ocupar na sua vida um lugar que já foi dela, entende?
-Nossa. É de se sentir medo, mesmo... ocê tem certeza do que percebeu em relação a isso?
-Acredite... eu não queria ter. Mas você sabe como sou observadora.
-Dani... se ocê tá certa sobre isso... talvez ela esteja saindo de controle.
-Eu sei disso. Mas o duro é que eu simplesmente não sei, não faço a mínima ideia de como eu posso convencer a Patrícia de que ela precisa de tratamento, entende?
-Ainda bem que ocê reconhece isso.
-Reconheço. E pela primeira vez na vida eu senti medo dela. De verdade. Por isso que eu te procurei... pra pedir pra você abrir o olho com ela. Talvez ela seja capaz de coisas horríveis contra você e o Flavinho...
-Lá vem essa mania chata sua e da Valéria de empurrar o Flavinho pra cima de mim.
-Gustavo, o papo aqui é sério: se por um acaso acontecer de rolar entre vocês, pelo amor de Lady Gaga, se mantenham longe das vistas da Patrícia.
-Sabe? Ocê tem razão. A gente nunca sabe do dia de amanhã...
-Ai, até que enfim! Achei quue cê tava pensando que eu queria arrancar confissão.
-Ocê não pensa em se afastar da Pati também?
-Pensar eu até penso, mas fico com pena.
-Por que?
-Cê sabe melhor que eu, Gustavo... ela não tem mais ninguém.
-E o que a gente tem a ver com isso?
-Responsabilidade. Consideração. Apesar dela ser desequilibrada, ela também é uma boa pessoa que merece amor e compreensão.
-O que não faz dela menos perigosa. Pra si mesma e pras pessoas. Pelo menos vê se convence ela a se tratar.
-É difícil, Gustavo... cê sabe o quanto. Eu não tenho condições de me afastar completamente dela por causa disso. Ela precisa de mim. Talvez até de você, de nós...
-Mas manter uma distância talvez seja o melhor. Senão ocê não tinha me procurado toda preocupada...
-Cê tem razão, Gustavo... ainda mais porque as coisas nunca são como a gente quer...
-Como assim?
-Eu quero que cê entenda que não tou insinuando ou induzindo nada, mas vamos aos fatos...
-Lá vem...
-Escuta com atenção: pra mim tá bem óbvio que a qualquer momento, a paixão entre você e o Flavinho vai explodir, vai acontecer.
-Eu já dissse que não, Dani...
-Independente... vocês dois precisam manter os olhos bem abertos. Cuidar por onde andam. Eu e você sabemos que a Pati, quando quer, não dorme em serviço.
-É isso que me assusta.
-Então já sabe: é sempre bom estar alerta. Por você, pelo Flavinho ou por qualquer homem com quem você venha a se envolver futuramente... pelo menos enquanto a Pati não estiver sob controle...
CORTA A CENA.
CENA 2: Flavinho custa a dormir e, ao descer à sala, se depara com Bernadete assistindo a um seriado.
-Não sabia que ocê tava acordada, ainda...
-Perdi o sono, querido. Vim assistir meus seriados pra ver se o sono vem. Você parece agitado, também.
-Ai, Bernadete... agitado talvez não seja bem a palavra. Mas certamente tenso.
-Por que?
-Eu sei que não devia, mas não paro de pensar no que a Madame Marie me disse.
-Querido... se ela conversou com você e disse as coisas que te disse, é porque ela, melhor que ninguém, sabe que você é forte e resistente o suficiente pra aguentar o que vem pela frente.
-Mas é isso que me deixa apavorado, sabe?
-Ter alguma vaga ideia sobre o que vai ser o seu futuro?
-É... eu nunca fui de mexer nessas coisas, sabe?
-Ah, Flavinho... é por isso que cê tá com medo? Fica tranquilo... quando você se acostumar, vai começar a entender intuitivamente os recados dela.
-O problema tá aí, Bernadete... eu acho que entendi. Mas não sei se quero ter entendido.
-Você quer falar sobre essas impressões que teve sobre as coisas que a Madame Marie te disse?
-Sim, mas nem sei por onde começar.
-Tudo bem... não vou te pressionar, querido. Só quero que você se acalme e não tenha medo do futuro.
-Eu fico pensando, sabe? Como seria se eu soubesse antes que... bem, deixa pra lá.
-Cê tá querendo me dizer alguma coisa que eu ainda não sei?
-Não... foi besteira minha. Mas tenho medo das coisas ruins.
-Nada é completamente ruim?
-Ocê acredita nisso?
-E por acaso eu não sou uma mãe que sobreviveu a enterrar um filho? Claro que acredito.
-Você é incrível, Bernadete...
-Deixa de bobagem. Só que a vida é cheia de aprendizados...
-Dependendo do que for, dá medo.
-É inútil temer aprendizado, meu querido. Já dizia aquele sujeito que me esqueci o nome: o que vem de ruim é sempre pra melhorar. Quer dizer, não sei se era exatamente isso. Mas o espírito da coisa era esse. Fica tranquilo, meu querido... no final das contas, tudo vai ser como tiver de ser. E vai ser bom.
CORTA A CENA.
CENA 3: Pela manhã, Daniella acaba despertando no apartamento de Gustavo e ele a vê envergonhada.
-Que foi isso, Dani? Se acordou com pudores? A gente foi namorado, sabe?
-Ai, Gustavo... eu sei disso, Mas é que vim aqui ontem pra te dar um alerta e acabei ficando. Nem devia ter aceitado.
-Relaxa. A ideia de ocê ficar foi minha.
-É, mas eu não precisava aceitar.
-E ia andar tarde da noite por essa cidade? Não mesmo!
-Desculpa...
-Ai, para... não tem motivo pra pedir desculpa. Foi bom tudo isso.
-Nem fala. Eu nunca pensei que a Patrícia pudesse estar tão mal. Achei que era algo que nós, como amigos, poderíamos ajudar a contornar. Só que agora eu tou percebendo que não. E que vai ser difícil pra ela mesma perceber isso.
-Ela se recusa a perceber que precisa de ajuda. Psiquiátrica inclusive.
-Tenho até medo de afirmar um negócio desses, porque não sou médica, muito menos psiquiatra... mas desconfio que ela seja borderline.
-Pois então, Dani... eu tenho quase certeza disso.
-Bem... se duas pessoas pensam a mesma coisa... pode ser sinal de que tem alguma verdade nisso.
-Eu convivi muito tempo com ela. Ela sempre foi impulsiva.
-Me responde uma coisa: em algum momento ela se machucou propositalmente?
-Mais de uma vez, Dani. Quando a raiva era muita, ela se cortava.
-É, meu amigo... a Pati precisa mesmo de tratamento e acompanhameto especializado. Pelo próprio bem dela. A maior ameaça é a ela mesma. Numa dessas, pode rolar suicídio.
-Dani... você precisa dar um jeito de fazer ela enxergar que tá doente.
-Eu não sei como, Gustavo. Quando tento entrar nesse assunto, ela reage mal. Diz que eu tou chamando ela de louca.
-Faz parte. Ela morre de medo de perder a sanidade.
-Então é isso, sabe? Ajudar eu quero. Mas como eu vou ajudar alguém que ainda nem descobriu como ajudar a si mesma?
-Isso precisa ser resolvido logo.
-Nem fala... minha intuição diz que quanto antes, melhor... pra evitar maiores problemas pra todos nós...
CORTA A CENA.
CENA 4: Nicole conversa com Cristina antes de Cristina ir ao trabalho.
-Filha... cê não acha que tem sido teimosa demais?
-Tenho a quem puxar, né dona Nicole?
-Tá me chamando de cabeça dura?
-Não, tou chamando a Madonna de cabeça dura... claro que é você, mãe! Enfiou na cabeça desde nova que queria ser chamada de Nicole e não pelo nome de batismo e fica uma fera com quem te chama de Marilu...
-Uma fera vírgula que a Dete tem essa liberdade.
-Só ela, porém...
-Tá... chega de desviar o foco do assunto, filha.
-Desculpa...
-Cristina... você ama o Fábio. Tá estampado isso em você. E não sei pra que continuar sofrendo desse jeito, por opção.
-Mãe... é mais complicado do que parece.
-É realmente complicado ou você que coloca essas barreiras, filha?
-Você sabe que não são simples barreiras.
-São o que, então? Cristina Blanco Oliveira, acorda pra vida antes que seja tarde!
-Ai, lá vem você com esse papo alarmista.
-Alarmista? Tá na cara que cê pode estar perdendo o homem da sua vida por besteira e eu, sua mãe, estou sendo alarmista? Tenha santa paciência, Cris...
-E o que você sugere? Esquecer tudo e voltar pra ele?
-Exatamente.
-Isso tá fora de cogitação, mãe. Pelo menos, enquanto eu estiver com as feridas abertas.
-Se você não fizesse questão de remexer nessas feridas, minha filha, elas já estariam fechadas...
CORTA A CENA.
CENA 5: Valéria finge indisposição quando Mauro visita novamente a mansão, para conversar com Bernadete e Leopoldo. No quintal, sentada, Valéria pensa numa maneira de tirar sua dúvida.
-Eu não posso simplesmente ficar com essa dúvida pra sempre me corroendo... preciso dar um jeito de descobrir de uma vez por todas se esse velho é mesmo o pai do William.
Valéria observa por mais alguns instantes e percebe que Mauro deixou sua carteira sobre a mesa enquanto seguiu Bernadete e Leopoldo para outro cômodo.
-É agora, Valéria... a sua única oportunidade de conseguir esclarecer tudo isso de uma vez por todas... coragem, menina, coragem! Respira fundo, segura na mão de Deus e só vai! Tomara que não chegue ninguém...
Valéria caminha silenciosamente até a mesa e olha para os lados, se certificando de que não há ninguém por perto.
-Aparentemente, tudo limpo... anda, Valéria. A hora é agora... não perde tempo!
Valéria abre a carteira de Mauro e procura pela carteira de identidade.
-Droga! Precisa estar escondida desse jeito? Pensa, garota... pensa que ocê nem sabe quanto tempo tem ainda!
Valéria tenta encontrar a identidade, mas não encontra.
-Ele veio dirigindo... isso! Eu tava procurando o documento errado! A carteira de habilitação, serve como identidade também! Isso!
Valéria encontra a carteira de habilitação e lê o nome de Mauro.
-Mauro de Souza Martínez... não pode ser... meu Deus do céu! Esse homem é avô do meu filho! Ele é realmente pai do William! Meu Deus... o que eu faço agora?
Valéria se apavora, fecha a carteira e volta para o quintal.
-Eu preciso dar um jeito de sumir das vistas desse velho... preciso dar um jeito!
CORTA A CENA.
CENA 6: Hugo está distraído trabalhando quando é surpreendido por Valéria entrando em sua sala.
-Que susto, amor! Podia ter avisado que vinha e batido antes de entrar...
-Desculpa, Hugo... só que eu nem pensei em avisar ou qualquer coisa. Eu descobri um trem bizarro hoje. E precisei vir aqui, correndo pra te contar... porque sinceramente eu não sei mais o que fazer.
-Nossa, Valéria... o que tá acontecendo?
-Por enquanto, nada... mas pode acontecer se o Mauro descobrir quem eu sou.
-Do que cê tá falando? Não vai me dizer que...
-Hugo... eu confirmei hoje mais cedo. Ele ainda tá lá em casa, conversando sobre negócios com seus pais.
-E como é que você confirmou?
-Vai por mim, amor... a informação é quente. Eu aproveitei uma distração deles. O seu Mauro deixou a carteira na mesa. Fiquei sozinha. E olhei os documentos dele... é o mesmo sobrenome do William... esse senhor é avô biológico do meu filho, deu pra perceber a gravidade da coisa agora?
-Isso até pode ser grave. Mas só seria se esse William voltasse ao país, certo?
-Sim...
-Eu conheço ele de vista... já conversamos algumas vezes. Dificilmente ele volta atrás no que decide.
-Ocê também percebeu isso? Eu vivia reclamando que ele era cabeça dura demais quando ele fingia que era pobre e tava junto comigo... mas enfim, águas passadas não movem moinhos. Só sei que tou morrendo de medo, amor... de que o William acabe voltando.
-O que te leva a acreditar nisso, Valéria?
-Intuição feminina. Uma sensação de que a qualquer momento vai estourar um grande problema...
-Será que não é só estresse?
-Como eu queria que fosse, Hugo... como eu queria!
CORTA A CENA.
CENA 7: Horas depois, Fábio encontra com Cristina em um restaurante.
-Que bom que você veio, Cris... por um momento eu pensei que meu convite de almoçar juntos ia ser perda de tempo.
-Sua sorte é que justo hoje mais cedo eu conversei com minha mãe sobre tudo e concluí que andei me defendendo demais...
-O que isso significa?
-Exatamente o que eu disse. Nem mais, nem menos...
-Que seja... eu queria falar sobre nosso filho... ou filha.
-Sim, Fábio... eu acho justo. Comigo e contigo.
-Como assim?
-Pra mim a coisa é bem simples e resolvida: você é pai e tem os seus direitos. E eu vou respeitar isso. Não vou criar nenhum tipo de distância entre você e nosso filho ou filha.
-Folgo em saber disso. Tive medo que você acabasse querendo distanciar a criança de mim.
-Longe de mim. Nós vamos nos manter próximos... afinal de contas, filho é pra sempre, né?
-Isso significa que eu tenho alguma chance a mais?
-Eu disse isso?
-Não...
-Então por favor... não insiste nesse assunto... não agora. Vamos chamar o garçom, que tou morta de fome?
CORTA A CENA.
CENA 8: Margarida percebe que Érico anda triste.
-Filho, o que anda te deixando assim, tão acabrunhado?
-Ai, mãe... não é nada demais. Não quero te ocupar com as minhas coisas, ainda mais quando você não pode resolver... só eu, mesmo.
-Érico, você é meu filho. Confia em mim, bota pra fora, sabe? Isso faz bem pra alma, pro coração.
-Quem dera, mãe... quem dera eu não tivesse um coração.
-Você também anda apaixonado? Sua irmã desabafou comigo dia desses sobre o Gustavo e tudo mais...
-Pra você ver... eu e a Carla, unidos pela mesma dor.
-Amor e dor não combinam, filho. Pra que esse sofrimento?
-Você não percebeu ainda, mãe?
-Percebi. Mas prefiro que você diga com todas as letras.
-É o Guilherme. Eu me apaixonei de verdade por ele.
-Mas isso não é bom, filho? Esse sofrimento não tá acontecendo porque você mesmo se nivela por baixo?
-Ele não gosta de mim como eu gosto dele.
-Será? De repente é você que colocou barreiras...
-Será, mãe?
-Dê tempo ao tempo, meu filho...
CORTA A CENA.
CENA 9: Patrícia passeia com Daniella pelo shopping e as duas param numa praça de alimentação.
-Pati... eu nem sei nem como começar a dizer, mas tenho uma coisa bem séria pra falar com você.
-Ai... não me assusta, miga...
-Não é pra se assustar. Só quero que você me escute com boa vontade e entendendo que estou sempre ao seu lado.
-Que bobagem, eu sei que você é minha amiga... pode falar.
-Patrícia... eu andei pensando muito desde que você deu aquela quase explosão de raiva ao falar sobre o Gustavo com outro cara... e percebi uma coisa.
-Ai, até já sei. Todo mundo me diz que eu fico chispando chamas pelos olhos. Mas a minha raiva passa logo...
-O problema é que ela é intensa demais. E pode ser destrutiva, tanto pra você quanto pros outros.
-Do que cê tá falando?
-Que talvez você deva considerar tratamento psicológico ou psiquiátrico, dependendo do encaminhamento.
-Mas eu não sou louca...
Daniella continua explicando situação para Patrícia. CORTA A CENA.
CENA 10: Já em casa, Hugo desliga o telefone e vai até Valéria.
-Amor... cê sabe quem acabou de ligar?
-Não vai me dizer que foi a Giovanna, de novo...
-Foi. Mas ela tava tranquila.
-Menos mal. Pelo menos à distância ela representa um problema a menos.
-Então... Valéria... essa distância vai acabar.
-Como assim? Ela não tinha direito a mais treze dias de férias se quisesse?
-Tinha, mas vendeu esses dias.
-Não pode ser. Isso significa então que ela tá pra voltar a qualquer momento, é isso mesmo que entendi?
-Em três dias ela retorna.
Valéria gela. FIM DO CAPÍTULO 78.
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