CENA 1: Giovanna percebe que Ricardo ficou confuso.
-Cê não deve estar entendendo nada, né?
-Sinceramente? Não entendi nada, mesmo...
-Você não é de BH?
-Sim, mas...
-Então! Por que a gente não visita a sua terra pra matar as saudades? Vai ser no mínimo interessante...
-Mas Giovanna... eu saí de lá em noventa e seis... tem mais de vinte anos.
-Não sente falta?
-Claro que sinto...
-Não sente vontade de visitar os lugares que te eram queridos?
-Com certeza! Mas falta tão pouco pras nossas férias acabarem de vez...
-Só que ainda não acabaram, seu bobo. A gente podia aproveitar esse tempo e visitar sua terra. Você pode ir no seu bairro, revisitar suas memórias de infância e adolescência...
-Sério mesmo que você faria isso por mim?
-E por que não? A gente acabou de se casar. Eu ando mesmo te devendo um mimo, um presente à sua altura.
-Você não existe, Giovanna... eu tenho muita sorte de você fazer parte da minha vida.
-Eu que tenho sorte, seu bobo. Você esperou por mim tanto tempo e eu burra nem te enxergava...
-Ah, cê tinha seus problemas... suas questões. Eu sei que a Glória te encheu o saco.
-Já falei pra você não se afastar dela. As diferenças dela comigo não podem interferir nessa amizade que vocês tem desde que cê veio pro Rio...
-Desse jeito eu começo até a ficar animado... mas quanto à Glória, não se preocupa, viu? Ela é minha amiga e sempre vai ser. Só que fala demais, como sempre.
-Você nunca acreditou nas besteiras que ela falou de mim, acreditou?
-Claro que não, boba. E mesmo que você tivesse tido alguma coisa com o Hugo, tá no passado, de qualquer forma.
-Mas eu juro que nunca tive nada com ele. Sempre fomos grandes amigos, apenas isso.
-Não precisa se justificar...
-Sinto que devo, Ricardo. Você é um homem especial. Nunca na vida eu pensei em me casar e você chegou pra mudar todo o meu mundo.
-Desse jeito, você até me convence de que sou o homem da sua vida...
-E isso não ficou claro, ainda? A gente casou pra que, então?
-É doido pensar nisso. A gente se conhecer por tantos anos, nenhum de nós ter casado até então e de repente tudo acontece. Em outro país, em outro continente...
-Parece coisa de novela, né?
-Muito!
-Mas sabe que essa minha ideia de ir pra BH também é uma vontade minha?
-Ué, não sabia dessa sua paixão por Minas.
-Nunca fui, acredita? Morro de vontade de conhecer. Acho que é por isso que a ideia veio martelando aqui...
-Eu vou achar ótimo. Eu revendo lugares que me são queridos... e você conhecendo esses lugares, pela primeira vez na vida...
-Né? Acho que isso tudo vai ser maravilhoso. Já fico imaginando o monte de foto que eu vou tirar das coisas que eu achar bonitas...
-Nem fala, Giovanna... cê vai ficar apaixonada por BH. Certeza do que tou falando!
-Certeza mesmo?
-Nossa, cê não faz ideia! É cada coisa maravilhosa que eu tenho pra te mostrar...
-Sabe... eu tava pensando em outra coisa agora... a gente ficou aqui falando, eu olhando pra você... de repente me pintou uma vontade de repetir a dose, sabe?
-Ah... acho que sei. Que fôlego esse seu, hein? Benza Deus!
Ricardo beija e abraça Giovanna, que sorri maliciosamente. CORTA A CENA.
CENA 2: No dia seguinte, ao chegar na frente da clínica, Gustavo se depara com Carla.
-Oi, Carla! Veio procurar a Cris? Ela chega em uns dez minutos, como sempre.
-Não, Gustavo... meu papo é com você, mesmo.
-Que? Desculpe a indelicadeza, mas o que a gente teria a tratar?
-Gustavo... eu pensei mil vezes antes de vir falar com você...
-Ocê parece preocupada. Senta aqui, por favor...
-Eu conversei muito com a minha mãe antes de tomar a decisão de vir aqui e te dizer o que preciso.
-Eita... mas o que é que ocê precisa me dizer tanto?
-Eu não quero que você me leve a mal nem pense que eu tou querendo agir como uma destruidora de lares...
-Oi? Do que ocê tá falando, Carla?
-Que eu sou completamente apaixonada por você.
-Gente... eu nunca podia imaginar.
-Por que? Eu não sou suficiente pra você?
-Deixa disso, Carla. Você é linda. Uma mulher e tanto! Atraente, além de ser incrível e inteligente. Mas eu receio que não possa corresponder ao seu sentimento. Desculpa.
-Você não me deve desculpas... eu deveria ter ficado quieta e nunca ter falado nada.
-Pra que, Carla? Pra fantasiar e sofrer em silêncio?
-Sabe o que é? Eu sempre tive tanto, mas tanto medo da rejeição que acabei me fechando.
-Cuidado, Carla... ocê pode acabar perdendo um grande amor por medo de ser rejeitada.
-Isso não me importa mais... não agora.
-Uai, por que?
-Você já me rejeitou.
-Carla... eu não te rejeitei.
-Só disse que não é capaz de correponder ao que eu sinto por você.
-E o que você queria que eu dissesse?
-Mentisse, pelo menos. Doeria um pouco menos.
-Não, Carla... você é tão inteligente, mas precisa amadurecer emocionalmente. É melhor lidar com isso agora. Eu gosto de você. Como amigo... e tá tudo certo.
-Você já levou foras?
-Perdi a conta, Carla. Faz parte.
-Ainda não aprendi a lidar com isso.
-Mas sei que vai.
-Tomara que eu consiga... pelo menos tou me libertando de certa forma hoje...
-É isso, querida: encare isso como uma libertação. Nada ficou por dizer.
-Vou tentar manter esse pensamento.
-E vai conseguir. Agora eu preciso entrar e verificar como estão as crianças internadas. Fica bem, viu?
CORTA A CENA.
CENA 3: Horas depois, durante o almoço, Flavinho gargalha ao ouvir o que Gustavo lhe conta sobre Carla. Gustavo se incomoda.
-Posso saber pra que tanta gargalhada, Flávio de Leon?
-Vish, me chamou pelo nome completo... mas cê tá bravo?
-O que você acha? Que ridículo rir da Carla. Isso que eu chamo de close errado.
-Ai, desculpa. Não resisti. A mapô crente que ia viver uma cena de novela e pá, tomou um fora na cara.
-E o que isso tem de engraçado, Flavinho? Ocê nunca levou fora na vida, é?
-Levei, uai.
-E doeu?
-Às vezes sim, mas...
-Mas o que, criatura?
-É engraçado ver a mulher levando fora.
-Não vi graça nenhuma. Na realidade desconfio que ocê esteja sendo bem misógino e achando graça só porque a Carla é mulher.
-Não! De jeito nenhum! Longe de mim... até porque eu sou gay.
-Ah, sim! Como se ser gay te livrasse automaticamente de ser machista e misógino, né? Ninguém te deu passe livre pra ser escroto com mulher.
-Gente, pra que tudo isso, Gustavo? Eu só ri de um fora, eu hein... precisa disso tudo?
-Precisa, Flavinho. Eu sou seu amigo, gosto de você e conheço seu potencial. Já te passou pela cabeça que ela pode estar sofrendo com tudo isso?
-Ah, sofrendo? Gente, é só um fora...
-De alguém que ela se declarou completamente apaixonada.
-É... talvez eu não tenha sido empático...
-Talvez? Eu tenho certeza que ocê não foi...
-Desculpa...
-Você não me deve desculpas...
-Então pra que me falou esse monte de coisa?
-P'rocê colocar a mão na consciência e perceber onde tá errando, uai. Simples assim.
-Eu vou tentar melhorar. Só não fica bravo comigo...
-Eu não tou bravo, Flavinho. Só fico chateado quando vejo essas coisas. Sei que ocê pode melhorar. É cheio de potencial...
CORTA A CENA.
CENA 4: Instantes depois, antes de retornar de sua pausa, Gustavo é parado por Daniella.
-Oi... tá com tempo livre, ainda?
-Uns três ou cinco minutos, por que?
-Eu tava pensando que a gente podia sair pra beber alguma coisa hoje de noite.
-Logo que eu sair daqui?
-Pode ser, se estiver tranquilo pra você.
-Ando mesmo precisando beber e dar uma espairecida.
-Pois é, eu ando sentindo essa mesma necessidade de uma boa cerveja e uma boa conversa.
-Eu ando mais precisado de conversar que ocê imagina...
-Ué... aconteceu alguma coisa?
-Algumas coisas.
-Eita. Quer me antecipar o que é? Cê sabe que eu odeio ficar na curiosidade, não sabe?
-O dia todo foi meio bizarro hoje.
-Nossa, quando cê diz isso, é porque a coisa realmente ultrapassou qualquer normalidade.
-A Carla teve aqui mais cedo.
-A Carlinha, filha da Margarida?
-A própria. Disse que era perdidamente apaixonada por mim, acredita?
-E você?
-Do meu jeito sutil, dei um fora nela.
-Gente...
-Mas ainda teve mais coisa depois...
-Fala sério... o que mais pode ter acontecido, Gustavo?
-O Flavinho. Quase briguei com ele.
-Uééé... por que?
-Ele riu da situação quando eu contei.
-Falo é nada... cê não tá percebendo que ele tá começando a ficar caidinho por você, não?
-Nossa, Dani... não viaja. Preciso entrar agora. A gente se vê quando eu largar daqui.
CORTA A CENA.
CENA 5: Mauro chega à mansão dos di Fiori e vai diretamente com Leopoldo ao seu escritório.
-Desculpe minha demora. Não tive como vir antes.
-Tudo bem. Imagino que você esteja bastante ocupado.
-Ocupado e lucrando um bocado, sabia? Muito mais do que pensei.
-Que notícia maravilhosa! Quer dizer que tá dando tudo certo?
-Sim. Nenhum aperto financeiro, pelo contrário: estou com dinheiro sobrando.
-Então, Mauro... eu te chamei aqui pra te dizer o exato oposto disso...
-Como?
-Exatamente: descobri que estou endividado. Não tinha verificado minha conta antes. Não apenas não vou poder contribuir financeiramente com suas filiais, como corro o risco ainda de pedir concordata para a agência do meu filho...
-Não tem problema.
-Oi? Como assim?
-Você esqueceu que eu preciso só do seu nome?
-Sim, mas acho que você não entendeu. Estou quase quebrado! A ponto de pedir falência...
-Eu resolvo essa situação pra você.
-Como?
-Eu pago suas dívidas. E você me empresta o seu nome. Eu fico com parte das ações da Natural High...
-Não era o que eu tinha em mente, mas...
-É pegar ou largar. Acho que a Bernadete não ia gostar de saber que ocê andou colocando até a casa dela como garantia...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 6: Geórgia conversa com Bruno sobre vários assuntos, quando Bruno começa a falar sobre o namoro de Mônica com Sérgio.
-Quem diria que a Mônica ia arranjar um namorado, hein? Pensei que ela vivia de trabalhar, só...
-Nossa, Bruno... que conceito errado que cê faz dela. A Mônica é, acima de tudo, uma mulher... e tem todo o direito de ser feliz.
-Nisso eu concordo. Mas é esquisito.
-Esquisito o que, Bruno? Não tou entendendo.
-Esse cara...
-O que tem o Sérgio?
-Não sei se ele aguenta ser deixado de lado o tempo todo.
-Com base em que cê tá falando uma coisa dessas, Bruno? Que deselegante, isso.
-Nossa, amor... pensei que cê estivesse entendendo o que quero dizer.
-Pois não tou entendendo nada. Não entendi até agora por que cê começou a falar nesse assunto.
-Porque eu gosto da Mônica, ué. E sei que talvez ela esteja sem tempo pra namorar.
-E é você quem decide isso agora, Bruno? Eu hein... ninguém te ensinou lá na Argentina a cuidar da própria vida e deixar a dos outros em paz?
-Nossa, amor... precisa me tratar assim?
-E quer que eu trate como, Bruno? A vida amorosa da Mônica diz respeito somente a ela.
-Tá... desculpa.
-Bruno, eu não tenho o que te desculpar. Você simplesmente não pode fazer cagada sempre e pedir desculpa no momento seguinte. Cresce, garoto... cresce!
-Pera, volta aqui, fica comigo...
-Depois, Bruno... deixa eu esfriar a cabeça.
CORTA A CENA.
CENA 7: Bernadete repreende Leopoldo.
-Não acredito que você caiu na rede do Mauro!
-E tinha outro jeito, Dete?
-Precisava você ter deixado as coisas chegarem nesse ponto, Leopoldo? Cê sabe muito bem como funcionam os empréstimos dele...
-Não tive escolha, querida...
-Teria tido se tivesse sido menos cabeça dura e deixado eu participar mais disso tudo.
-Já foi...
-Você fala isso com tanta naturalidade... esquece que estamos todos endividados. E o Mauro costuma cobrar com juros absurdos.
-Mas ele é nosso amigo.
-Ah, claro... e por ser nosso amigo, cê acha que ele vai mudar os métodos dele?
-Quem sabe...
-Não seja ingênuo, Leopolo. Amigos, amigos, negócios à parte.
-Ah, mas ele vai saber reavaliar.
-Eu não contaria com isso.
-Você já foi mais otimista, Bernadete.
-E você já foi mais prudente, Leopoldo...
CORTA A CENA.
CENA 8: Horas mais tarde, Flavinho chega mais cedo do trabalho. Valéria estranha.
-Eita, migo... não sabia que ocê vinha mais cedo hoje.
-Tava sem ânimo e pedi pra Cris me liberar mais cedo.
-O que tá acontecendo?
-Pergunta pro seu irmão.
-O que?
-Isso mesmo...
-Pera lá... você e o Gustavo nunca se desentenderam. Dá pra me explicar que trem é esse?
-Ele ficou bravinho comigo.
-O Gustavo não é de ficar bravinho por pouca coisa. Alguma ocê fez pra deixar ele irritado.
-Até você, Valéria? Porra...
-Fala logo o que foi...
-Ele ficou putinho porque eu ri da Carla. Ela se declarou pra ele e ele, que não é apaixonado por ela, deu um fora.
-E ocê riu da garota? Não acredito, Flavinho... que decepção.
-Ai, gente. O que é que tem? Eu só ri.
-Não é uma simples risada, seu besta. Isso é misoginia.
-Ai, não... de novo esse papo? Ele me disse a mesma coisa.
-Deve ser porque é misoginia, simples assim!
Flavinho fica pensativo. CORTA A CENA.
CENA 9: Glória verifica com Mônica se tudo foi executado como planejado e elogia Mônica.
-Arrasou, mulher! Não apenas fez a parte que cabia ao Ricardo como fez ainda mais! E vai ser bom te ter como colega efetiva, ainda que por um período de tempo menor, com a volta dele...
-Deixa disso, Glória. Você que é uma querida, sempre disposta a ajudar e com muita paciência.
-Mudando de assunto...
-Vish, pelo seu tom, acho que cê tá querendo falar do nosso famigerado ex...
-Sou tão óbvia assim?
-Um pouco.
-Mônica, eu não me conformo. Olha o jeito que a Giovanna trata ele! Quando eles vieram aqui, eu fiquei de cara com a impessoalidade. Imagina se eles não fossem casados?
-Também notei. Mas a Giovanna é dessas, gosta de bancar a durona.
-Chegou a ser constrangedor, Mônica... eu não quis dizer nada, porque depois fico eu de invejosa da história...
-Eu notei, também. Mas não sei se sou capaz de julgar...
As duas seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 10: Ao se servir para o jantar, Giovanna relembra cena que testemunhou ao ver Valéria e Hugo se beijando.
-Calma, Giovanna... respira. Vai passar. Tá tudo sob controle... - fala Giovanna, consigo mesma.
Giovanna tenta se distrair e voltar ao foco. Ricardo estranha a demora.
-Amor, vem logo! Tou esperando você para começar a comer!
-Já vou, Ricardo. Segura um pouco!
Giovanna tenta se concentrar na tarefa, mas acaba lembrando novamene da cena que viu na mansão.
-Aqueles dois... dois traidores. Dois sonsos, isso sim. Eles me pagam. Não podiam ter feito uma coisa dessas comigo!
Giovanna explode de raiva e quebra o prato. Ricardo se assusta e Giovanna se arrepende.
-O que foi isso, amor?
Giovanna encara Ricardo, sem saber o que dizer. FIM DO CAPÍTULO 82.
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