segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

CAPÍTULO 85

CENA 1: Bernadete segue emocionada e Leopoldo se incomoda, porém tenta disfarçar.
-Você tem certeza absoluta de que vai chamar o bebê de Leonardo? - pergunta Leopoldo.
-Tenho sim. Gente, sem mentira nenhuma... eu vi o Leonardo. Ele me garantiu que tudo ia ficar bem... que eu e meu filho íamos nos salvar... e que tinha vindo pra se despedir de verdade de mim, do jeito que não conseguiu se despedir. Eu prometi a ele, que se saísse dessa situação, ia batizar meu filho com o nome dele. E é assim que vai ser! - fala Valéria, emocionada.
Leopoldo sai intempestivamente do quarto e Hugo vai atrás do pai.
-O que foi isso, pai? Quer roubar as atenções todas pra você, justo agora?
-Nem começa, Hugo! Cê sabe muito bem porque eu saí furioso daquele quarto.
-Não, eu não sei. Não ficou claro pra mim. Se você puder me dizer o motivo, eu agradeço.
-Não se faça de sonso, filho. A Valéria tá fazendo tudo errado.
-Errado por que?
-Porque é absurdo ela dar ao bebê o nome de Leonardo.
-Eu acho uma homenagem linda. Qual é o problema?
-Você quer mesmo que eu mencione qual é o problema, Hugo?
-Problema? Continuo não vendo nenhum aqui.
-Você sabe que é um absurdo a Valéria levar uma coisa dessas adiante. É a continuidade da farsa. Ela não tem esse direito!
-Direito, pai? Quem é você pra falar nos direitos dela? Foi você quem inventou essa farsa!
-Não é bem assim...
-Então é como?
-Foi pra proteger sua mãe...
-E qual a desculpa agora? Ela tá saudável, coração curado e funcionando maravilhosamente... o bebê da Valéria, que vou criar como filho, já nasceu. Qual é a necessidade que tem de manter a farsa agora?
-Você não entende mesmo, não é, filho?
-Honestamente, não ando entendendo muito essa sua insistência.
-Ela vai perder a confiança em mim. Eu posso perder sua mãe pra sempre, Hugo.
-Assuma as consequências disso, então. Quem teve a ideia de levar o mal entendido adiante foi você. Lide com isso. Esteja preparado pro que vier.
-Filho, não é certo.
-O que não é certo é você ter cercado a mãe de mentiras por anos. Eu e você sabemos que essa é só mais uma das mentiras que você ajudou a criar. E que por causa de uma das suas mentiras, talvez a pior de todas, o Leonardo está morto hoje. Então faça o favor de baixar a sua bola que o meu filho, porque independente de questões biológicas, o bebê da Valéria é meu filho sim, vai se chamar Leonardo sim. Você não pode fazer nada pra impedir. E tem mais uma coisa: acho bom você ir treinando pra contar toda a verdade pra mãe, porque nem eu, nem a Valéria, muito menos o Flavinho, estamos dispostos a levar essa farsa toda adiante. Então trate de se mexer que vai chegar uma hora que não vai mais te sobrar tempo ou opção. Se liga!
-Mas você sabe que isso pode representar algo ruim pra todos nós, né? Principalmente pro Flávio.
-Por sua culpa.
-Tá, por culpa minha. Já pensou se sua mãe se revolta com o menino?
-Eu espero sinceramente que isso não aconteça. Eu e você sabemos que ele não merece isso.
-Eu sei, filho. Demorei pra admitir, mas sei...
-Então trate de encontrar um jeito de falar toda a verdade sem causar muitos danos.
-Eu acho que eles são inevitáveis.
-O responsável pelos danos que vierem vai continuar sendo você. Tudo isso começou com a sua homofobia. Com a sua insistência em esconder da mãe quem o Leo sempre foi.
-É justo que um dia eu pague por isso tudo.
-Que seja só você, pai. Que seja só você!
CORTA A CENA.

CENA 2: No dia seguinte, Giovanna está iniciando seu dia de trabalho quando Glória chega em sua sala.
-Precisando de alguma coisa, Glória?
-Queria saber se você já ficou sabendo da última.
-Depois não quer que eu te chame de fofoqueira. Que última é essa que cê quer saber se eu sei?
-Nasceu o bebê da Valéria.
-Não brinca! Foi quando?
-Ontem... o Hugo tá radiante. Vai mesmo registrar o bebê como filho dele. E vai se chamar Leonardo.
-Isso que é cegueira, hein?
-Não, Giovanna... o nome disso é amor. Daqueles bem verdadeiros, mas enfim... já contei do babado, agora vazei...
Glória deixa a sala de Giovanna e ela se senta em seu lugar, pensativa.
-Eu devia ter insistido mais, naquela vez que eu fui com o Ricardo pra BH. Não é possível que ninguém naquela cidade não saiba nada sobre o ex da Valéria... não é possível! Em algum lugar eu tenho que descobrir o que se fez desse cara. Porque essa criança tem um pai que não é o tonto do Hugo... e se eu chegar até ele, acaba de vez a felicidade do casalzinho de comercial de margarina...
Giovanna segue pensativa e instantes depois, Ricardo chega.
-Oi, amor... tá ocupada?
-Sim... tou pesquisando umas informações aqui. Tou vendo que vou ter que resolver umas coisas. E vou ter de ir a BH.
-Maravilha, amo minha terra. Quando nós vamos?
-Eu vou. Precisa ser hoje. Não dá tempo de você se esquematizar... sinto muito.
-Tudo bem, querida...
-Você não fica chateado, amor?
-Nem tem como. Se é algo necessário...
-Vai ser rápido. Bate e volta. Vou e volto ainda hoje, eu prometo, viu?
-Nem precisa prometer, amor. Confio na sua palavra.
-Da próxima vez, você vai a BH comigo, tá?
-Tudo certo.
-Agora eu preciso agilizar algumas coisas aqui, fazer umas ligações. Você me ajuda, rapidão?
-Sempre, amor...
-Então faz assim, Ricardo... fica aqui no meu PC rapidinho e me passa os números que aparecem na tela.
-Certo...
CORTA A CENA.

CENA 3: Cristina chega cedo em casa. Nicole recebe a filha.
-Tá tudo bem, filha?
-Sim, mãe... só ando realmente meio exausta esses últimos dias. Achei melhor voltar pra casa, ainda mais que tá tudo tranquilo lá na clínica.
-Sei. Pra mim cê tá é com medo do Fábio materializar lá outra vez sem avisar.
-Não vou mentir, mãe... tou com medo que ele faça isso, sim.
-Engraçado... isso parece mais um processo de negação.
-Lá vem você com essas teorias de quem engoliu livros de psicologia...
-Tá na cara, Cristina...
-Tá na cara o que, mãe?
-Que cê tá morrendo de saudade dele.
-Ai, mãe... não vou negar... claro que sinto saudade. Afinal de contas, a gente teve uma história, antes de eu descobrir tudo. E eu carrego uma filha dele aqui dentro.
-Aliás, admiro a sua decisão pelo nome dela.
-É, mas nada de comentar isso com ele, viu? Nem com a Dani, nem com ninguém, porque eu contei só pra você.
-Até parece que você não sabe como sou. Seu segredo tá seguro comigo.
-Sabe, mãe... eu queria que tudo fosse mais simples.
-As coisas seriam mais simples se você soubesse simplificar.
-Não sei se consigo, nem sei se quero.
-Com qual desculpa, agora?
-Não é desculpa. É saber que a sombra da Arlete é algo presente demais na minha vida. Talvez jamais deixe de ser.
-Filha... só tem um jeito de superar tudo isso.
-Como?
-Aceitando ele de volta. Reatando com ele.
-Pra que? Pra nunca saber realmente com quem eu tou lidando?
-Filha... até eu vejo o quão transparente o Fábio é e o quanto ele te ama.
-Será que ama? Sempre fico com a sensação que ele ama a memória da Arlete que habita em mim. Eu não consigo, mãe... eu não sei quem ele realmente é. Queria saber... mas acho que esse dia nunca vai chegar.
-Uma pena, Cris... você podia ser feliz no amor, se quisesse...
-Talvez eu nem precise disso, mãe...
CORTA A CENA,

CENA 4: Glória procura Ricardo no horário de almoço.
-Nossa, quanto tempo eu não te via vir lanchar comigo!
-Sabe o que é, Ricardo? Bateu saudade. E você sabe como eu gosto de conversar com você.
-Senti falta disso, sabia?
-Eu também. Mas sabe como é, fiquei com medo que a Giovanna pudesse entender errado.
-Se tem uma coisa que não habita aquele corpo, é ciúme.
-Será?
-Tou te dizendo, boba. Ela não demonstra ter um pingo de ciúme de mim.
-Que bom, né? Porque ela não me transmite isso...
-Glória... por favor...
-Pelo menos escuta a sua velha amiga?
-Mas é claro. Eu sempre te escuto. Só que eu sei que você nunca foi com a cara da Giovanna...
-E nunca escondi isso de você. Mas cê sabe muito bem que quando eu encasqueto com alguém, é porque tenho meus motivos.
-Exatamente, Glória: os motivos são seus. E ela é minha esposa faz alguns meses.
-Só acho que você acredita rápido demais em tudo o que ela diz.
-Nunca tive motivos pra não acreditar nas palavras e atitudes dela.
-Se eu fosse você, eu prestava mais atenção.
-Pra que isso, Glória? Tá pedindo pra eu abrir os olhos com ela, é isso mesmo?
-Sim. Presta atenção nas sutilezas. Nos olhares... nos gestos que costumam passar despercebidos. Aí você vai começar a conhecer quem é sua esposa de verdade.
-Sabe o que é isso, Glória? Inveja!
-Inveja do que, criatura?
-Porque na sua cabeça eu te troquei por ela.
-Não, de jeito nenhum, Ricardo... cê tá entendendo tudo errado.
-Se eu sou burro assim, então melhor essa conversa terminar aqui.
CORTA A CENA.

CENA 5: Raphaela percebe Mônica exausta, quando ela chega em casa.
-Tá tudo certo, Mônica?
-Queria que estivesse. Mas pra ser bem sincera, tou a ponto de explodir, de tão sobrecarregada que ando ficando.
-Ué, mas não tou conseguindo entender: não é você quem faz seu próprio horário lá na agência?
-É, mas não é só isso... é o conjunto de todas as coisas.
-Desculpa a intromissão, mas o Sérgio tem a ver com isso?
-Não é intromissão nenhuma, Raphaela. O Sérgio é quem mais tem a ver com essa minha exaustão. Eu sei que ele é um cara sensacional, um namorado como poucos que já tive nessa vida, mas...
-Vish, só por esse seu “mas...”, já posso imaginar.
-Tou me sentindo sufocada, amiga...
-E você já disse a ele?
-Tentei. Mas ele se sentiu culpado. O que ele não entende é que ele não tem culpa... apenas nossas naturezas que são diferentes.
-E essas diferenças estão ficando bem evidentes nesses últimos meses, pelo visto.
-Sim, Raphaela. Quase insustentáveis.
-Não seria melhor terminar?
-Meu racional diz que sim. Mas meu emocional diz que não. Olha, Raphaela... tá complicado, viu?
-Alguma solução precisa ser encontrada pra esse impasse, Mônica... porque do jeito que tá, não pode continuar.
-Nem me fale... nem me fale.
CORTA A CENA.

CENA: Daniella, ao sair para lanchar, em um intervalo de seus ensaios, encontra com Patrícia.
-Oi, Pati! Como você tá bem, hoje, chega a estar luminosa!
-Não sei se sou eu ou se é efeito do medicamento, mas hoje eu realmente tou sentindo mais tranquilidade.
-É o propósito do seu tratamento, né?
-É, mas...
-Mas o que?
-Nem sempre é esse paraíso todo.
-Isso é perfeitamente normal e compreensível de acontecer, amiga...
-Já nem sei mais o que é normal ou não... o fato é que depois de tantos meses, eu ainda sinto umas coisas esquisitas.
-E quem disse que pessoas “normais” não sentem, sua boba?
-A diferença é que a maioria delas não tem um transtorno limítrofe diagnosticado, né...
-E daí? Todo mundo em algum momento tem barras pessoais pra enfrentar. Cada uma delas, com seu próprio peso particular. Relaxa.
-Eu queria, Dani... juro que queria relaxar mais. Mas tem dias que o medicamento não faz efeito.
-Claro que faz. Só não faz completo, mas se não tivesse efeito nenhum, você tava ainda stalkeando alguém com quem encasquetasse.
-Menina... eu penso nisso o tempo todo, não vou mentir...
-Pensa, mas tem tido discernimento pra não executar o que te passa pela cabeça...
As duas seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 7: Flavinho percebe que Gustavo está melancólico durante pausa para descanso.
-Ei, Gustavo... ocê tá esquecendo do bem que faz pras crianças?
-Oi? Desculpa, Flavinho, mas não entendi.
-Sua cara... fiquei preocupado. Senti tanta melancolia aí...
-Ah, relaxa, amigo... não tem nada a ver com as crianças.
-Tem a ver com o que, então?
-Não vai rir da minha cara?
-Ocê sabe que não sou de rir d'ocê e eu fico até com medo depois daquela vez que eu acabei sendo escroto... mas enfim, é passado... pode falar.
-É sobre a Daniella. Às vezes fico pensando horas... em como tudo podia ter sido.
-Como assim, Gustavo? Não entendi nem um pouco direito. Vocês não são amigos, no final das contas?
-Sim.
-Então realmente não pesquei o sentido disso...
-Ah, Flavinho... eu me pergunto como tudo ia ser se a gente não tivesse terminado. Se a Patrícia não tivesse feito as armações que fez.
-Ocê quer saber o que eu acho?
-Claro, Flavinho.
-Que é uma perda de tempo pensar nisso. Com ou sem Patrícia atrapalhando, ocês iam acabar terminando, simplesmente porque ela quer outra coisa da vida. A Patrícia só apressou esse abismo.
-Nossa... não sabia que ocê pensava assim.
-Mas penso. Agora me dá licença que eu ainda tenho muito trabalho pela frente hoje.
Flavinho sai visivelmente incomodado e Gustavo fica intrigado. CORTA A CENA.

CENA 8: Em Belo Horizonte, Giovanna localiza salão de beleza de Firmino, antigo chefe de Valéria e Flavinho.
-Boa tarde!
-Boa tarde, moça. Sou Firmino, o dono do salão.
Giovanna resolve mentir o nome.
-Prazer. Sou Luísa.
-Seja muito bem vinda ao meu salão, dona Luísa.
-Por favor, sem o “dona”, pode me chamar apenas pelo nome.
-Certo. Você não é daqui, né?
-Não, sou do Rio de Janeiro. Estou de passagem por BH e me recomendaram o seu salão para fazer a melhor hidratação que existe.
-Percebi pelo seu sotaque que ocê não é daqui. Modéstia a parte, ninguém faz hidratação como eu, viu?
-Qual é o segredo, Firmino?
-Ah, isso eu não conto nem sob tortura!
-Tá certo. O segredo do sucesso às vezes é justamente esse.
-Exatamente. Quando a gente mantém essa aura de mistério, aguça a curiosidade do público. Acaba atraindo clientela...
-Mas enfim... você acha que antes disso eu preciso retocar minha coloração?
-Deixa ver... não, menina. Seu cabelo tá ótimo assim. A não ser que você queira uma leve matizada, isso dá pra eu fazer bem tranquilo antes da hidratação... topa?
-Topo!
CORTA A CENA.

CENA 9: Valéria e Hugo chegam em casa com Leonardo depois de Valéria receber alta. Bernadete paparica o bebê.
-Meu netinho lindo... tão pequeno, mas tão guerreiro. Fiquei tão feliz de você ter tido a delicadeza de chamar ele de Leonardo, Valéria... - encanta-se Bernadete.
-Cê me desculpa, mãe... mas a Valéria tá bem cansada... - fala Hugo.
-Eu tava sem jeito de falar... mas tou bem cansada, sim... - fala Valéria.
-Sem problema, queridos. Eu sei como a gente se sente nos primeiros dias depois do parto. Sobe com o Hugo, minha querida... mais tarde eu vou dar uma paparicada a mais no meu neto... - fala Bernadete.
Valéria e Hugo sobem.
-Sabe, amor... eu sei que foi bem chato o negócio da sua discussão com seu pai... mas acho que ocê tá apressando demais ele...
-Por que, Valéria?
-Porque ele pode ter razão quando diz que todos nós podemos perder alguma coisa com a verdade revelada.
-Ele que lide com essas consequências e trate de impedir de respingar na gente. Não foi ele que criou essa situação? Ele que se vire pra desfazer...
CORTA A CENA.

CENA 10: Firmino fica surpreso quando Giovanna, se passando por Luísa, afirma conhecer Flavinho e Valéria.
-Que coisa! Eu sabia que eles tinham se mudado pro Rio, mas jamais que uma amiga deles ia vir de lá pra cá... ainda mais por indicação deles! - admira-se Firmino.
-Não é, Firmino? Inclusive o bebê da Valéria nasceu por esses dias, sabia? Depois de todo aquele perrengue que foi ela ser largada, ela tá sendo bem feliz agora!
-Adorei saber disso. Cê sabe que foi um bafafá daqueles por aqui quando ela descobriu a gravidez, né? O namorado dela escondia dela que é e sempre foi milionário e quando ela contou da gravidez, ele brigou com ela, acusou de um monte de coisa. Foi bem horrível.
-Foi bem horrível, mesmo... até me fugiu o nome dele, agora...
-William de Souza Martínez. Filho único de Mauro Martínez, o dono da Souza Martínez, é mole?
Giovanna sorri, vitoriosa. FIM DO CAPÍTULO 85.

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