CENA 1: William segue encarando Giovanna com raiva e intimidando-a. Giovanna se faz de desentendida.
-Não entendi essa sua animosidade toda comigo, William. Pensei que seríamos amigos.
-Ah, pensou? Bom pra você. Pra minha sorte, eu não sou de acreditar no primeiro sorriso de dentes arreganhados que aparece na minha frente.
-E quem você pensa que é pra me tomar desse jeito, William? Se não fosse por mim, você não teria tido acesso a todas as informações que dispõe sobre seu filho agora.
-Não se superestime, Giovanna. Com ou sem você, eu saberia das coisas que sei.
-Em primeiro lugar, seu moleque: baixa o seu tom comigo que você tá no meu ambiente de trabalho e eu exijo o mínimo de respeito.
-Certo. O mínimo, você merece. Não por você, mas pela Natural High.
-Ora, William... faça-me o favor! Você tá bipolar, é? Quando a gente conversou antes, cê tava concordando com tudo...
-Claro que tava. Ainda tava sob o impacto de saber que sou pai e que só soube disso por acidente.
-Peraí... cê tá querendo insinuar que eu me aproveitei desse seu choque pra te manipular?
-Não estou insinuando, estou afirmando: você quis me manipular. Mas comigo não é bem assim...
-Você entendeu tudo errado, William... eu quero ser sua amiga. Não suporto ver uma situação dessas de injustiça acontecer e ficar de braços cruzados.
-Seria lindo, se você fosse uma santa. Fala, qual é o seu interesse nisso tudo?
-Meu interesse é claro e cristalino, William. É pelo certo, é pela justiça.
-Você é advogada por acaso?
-Não...
-Fala de uma vez qual é o seu verdadeiro interesse nisso, Giovanna. Eu sei que cê tá mentindo. Isso tá nos seus olhos. Nós não somos amigos. E nem quero ser um amigo seu. Fala de uma vez qual é a sua antes que eu saia falando pra todo mundo aqui que você arma contra as pessoas.
-De onde que cê tirou que eu armo contra as pessoas? Seu ingrato! Eu tento te ajudar e você me acusa de complô?
-Fala de uma vez, senão vai ser pior pra você!
-Tá certo... eu falo... senta aí que é pra não cair.
-Sentei. Agora fala.
-Eu e o Hugo fomos amantes durante mais de dez anos.
-Eu sabia que tinha dor de cotovelo nisso! Continua...
-Daí chegou essa vadia da Valéria. Assim, por acidente. Sobreviveu ao acidente que matou o irmão do Hugo na estrada. A Bernadete acha que a criança é do Leonardo. Ninguém desfez esse mal entendido. A Valéria tava fugindo de alguma coisa...
-Tava fugindo de mim... digo, não de mim, mas de tudo o que eu e BH representamos pra ela.
-Você é um bobo apaixonado, ainda. Ela foi a maior beneficiária disso. Ganhou uma família. Rica. Podre de rica, Influente na sociedade carioca. Junte as coisas.
-Nessa eu não caio. Eu já acusei ela de golpista uma vez. Mas sei que ela não é. E tem mais uma coisa, Giovanna: fui eu que abandonei ela. Ela errou ao mentir que não tinha gravidez, mas eu errei antes. Ah, uma última coisa: você é uma vadia.
-Com que direito você me chama de vadia?
-Você confessou que tá fazendo tudo isso porque não soube perder o Hugo.
-E por acaso você quer que eles fiquem juntos?
-O que eu quero ou deixo de querer não interessa agora. A única coisa que me interessa é poder ser pai do meu filho, captou?
-Ah tá... vai me dizer que não sente nem um pouco de falta dela. Que já deixou de amar a mãe do seu filho.
-Não é da sua conta. Você é suja. Suja e cruel.
-Não se dirija a mim dessa forma, você não sabe com quem tá lidando.
-Isso é uma ameaça?
-Entenda como quiser, queridinho.
-Não tenho medo.
-Pois então pague pra ver...
-Pago mesmo. Você não tem direito de se meter numa história que não te diz respeito.
-Me diz respeito a partir do momento que a Valéria roubou o Hugo de mim.
-Você não casou? Ah, esqueci: vadias como você passam por cima de todos. Mas não por cima de mim. A mim, você não engana. Passar bem,
William deixa sala e Giovanna espuma de raiva.
-Esse moleque me paga por ter me tomado desse jeito. Ah, se paga!
CORTA A CENA.
CENA 2: Insantes depois, Giovanna sai da sala ainda transtornada e Glória percebe.
-Olha ela!
-O que foi agora, Glória?
-Nossa... cê já teve mais paciência, né? Mais classe também...
-Não me enche o saco, tá?
-Ui... tá nervosinha, fofa?
-Tou. E sem um pingo de paciência pra ironia barata de subalterna recalcada.
-Olha bem como cê fala, viu? Um processo não ia te cair bem, fofa.
-Se enxerga, Glória. Nunca na vida que eu vou ter medo dessas suas bravatas imbecis. Sai da minha frente.
-Saio sim, mas só quando você aprender a tratar as pessoas com respeito.
-E quem você pensa que é?
-Cê quer mesmo que eu diga?
-Fala. Mas assuma as consequências disso.
-Fica tranquila, Giovanna... eu não sou feito umas e outras que tá acostumada a dar o tapa e esconder a mão.
-Olha aqui, sua insubordinada... eu podia te demitir, sabia?
-Ui... olha ela mostrando as garrinhas! Viu, gente? Quando eu digo que essa aqui é uma doida pelo poder, ninguém me acredita!
-Abaixa a voz, Glória, tá todo mundo olhando.
-Ah, é pra olhar mesmo! Tá todo mundo cansado de saber que você fica armando pelas costas do Hugo, só o tonto do Ricardo que não percebe! E deve estar putinha agora porque levou um não bem maravilhoso daquele deus grego que passou aqui mais cedo!
-Pega as suas coisas, Glória.
-Ui, que brava, ela!
-Eu estou falando sério. Pegue as suas coisas agora. Agora! Some daqui.
-Peraí... você não pode fazer isso!
-Não só posso como estou fazendo: você tá demitida por justa causa. Insubordinação dá justa causa. Junta essas suas merdinhas e some da minha frente. Fora daqui, vadia!
-Isso não vai ficar assim, Giovanna. Você vai ser processada.
-Pois me processe. Gaste dinheiro com isso. Fique à vontade. Vamos ver quem é que vai levar a melhor nessa! Eu te desafio!
-Você não tem limites mesmo, mulher...
-Ainda bem que você sabe. E se eu fosse você, nunca mais me colocaria no meu caminho.
-Isso é uma ameaça?
-Não. O que eu digo, eu faço. Ainda sou clemente o suficiente pra dar a chance de você sair do meu caminho enquanto há tempo. Fora daqui. Você tá demitida, não ouviu?
CORTA A CENA.
CENA 3: Horas depois, Ricardo chega à agência e entra na sala que divide com Giovanna.
-Oi, amor...
-Oi, querido. Como foi a cobertura do evento?
-Cansativa até não poder mais. Mas deixa eu te falar... notei que a Glória não tá aqui. Saiu mais cedo, outra vez?
-Não, Ricardo... eu demiti a Glória.
Ricardo fica perplexo.
-Como assim? O que aconteceu?
-Insubordinação.
-Que? Sério isso? Ela foi por justa causa?
-Sim.
-Essa história tá mal contada, Giovanna... eu conheço a Glória desde que vim pro Rio ainda adolescente. Ela jamais agiria dessa forma.
-Mas agiu.
-Giovanna, meu amor... eu sei que você não gosta dela. Tou dando a oportunidade de você me dizer a verdade.
-Ela me ofendeu.
-Peraí... eu ouvi direito? Você deu justa causa à nossa funcionária mais antiga porque ela ofendeu você?
-Eu sou superior a ela.
-Mas você sozinha não decide esse tipo de coisa.
-Fala isso pro RH, então!
-Giovanna, isso é grave! A Glória pode processar você!
-Que processe... quero ver ela ter ganho de causa...
-Giovanna... se escuta falando, poxa! Onde cê pensa que tá com a cabeça? Em que mundo que cê tá vivendo? Eu exijo a readmissão imediata da Glória.
-Mas, Ricardo...
-Não tem “mas” nem meio “mas”. Essa demissão foi arbitrária e eu exijo que você readmita a Glória ainda hoje, ou então vamos ter sérios problemas!
CORTA A CENA.
CENA 4: Flavinho desabafa sobre seus medos com Gustavo.
-Desculpa incomodar com essas coisas, Gustavo...
-Você nunca incomoda, Flavinho. Nunquinha nessa vida!
-Eu tou apavorado com essa coisa do William ter voltado pra pressionar sua irmã e o Hugo...
-Posso imaginar. Mas tudo vai acabar bem entre eles.
-E eu?
-Como assim?
-Ocê não percebeu ainda, né?
-Sinceramente? Não.
-Isso fatalmente me dá no máximo duas semanas pra ter de lidar com toda a verdade.
-Uai, mas não é o que ocê queria?
-Era. E é ainda... mas eu tenho medo de como a Bernadete pode reagir quando souber que o amor do Leo era eu...
-Mas não é ocê que diz que ela é uma mãe p'rocê?
-E é! Ela me tem como um filho, também... talvez pra preencher o buraco que ficou no coração dela desde que o Leo se foi daquele jeito horrível...
-Então qual é o medo?
-Que ela reaja mal... que acabe me expulsando de casa e me deixe sem ter onde morar...
-Deixa disso. Isso não vai acontecer. E se acontecer, sem moradia você não fica.
-Não fico?
-Claro que não! Meu apartamento tá sempre aberto. E é seu se for necessário. Não se esquece disso. Eu sempre vou te acolher se for preciso...
CORTA A CENA.
CENA 5: Bernadete conversa com Leopoldo sobre estranhamento que vem tendo em relação a Valéria e Hugo...
-Leopoldo, querido... você não acha que nosso filho e Valéria andam muito tensos?
-Ah, acho que isso é normal, né? Papais de primeira viagem...
-Não acho que seja só por isso, querido... fico com a nítida sensação de que principalmente a Valéria tá apavorada com alguma coisa. Repara melhor nela, parece que tá o tempo inteiro em estado de alerta. Toca o telefone, ela dá um salto. A campainha toca, a mesma coisa...
-Será que não tem a ver com alguma coisa do pós parto?
-Não, amor... eu nunca vi uma coisa assim.
-De repente é o jeito dela reagir à maternidade, não?
-Alguma coisa fica martelando na minha cabeça e insistindo que não tem nada a ver com isso.
-E com o que teria a ver?
-E eu que sei? Fico com a impressão de que tanto ela quanto nosso filho estão escondendo alguma coisa da gente. Ou com medo de revelar alguma coisa.
-Mas que ideia mais sem pé nem cabeça, Bernadete!
-Sem pé nem cabeça é você reagir dessa forma.
-Dessa forma como?
-Quase que me tratando como doida por perceber as coisas que percebi...
-Deixa disso, amor... é impressão sua, só.
-Espero que seja. Mas isso não para de martelar na minha cabeça.
-Talvez seja melhor mudar de assunto, não? Falar de coisas leves... cê viu que o Leozinho riu pra mim hoje?
-Vi! Coisa mais amada, né?
Os dois seguem conversando e Leopoldo disfarça tensão.
CENA 6: Ao andar pela rua, Patrícia acaba vendo um casal feliz e para para observá-los.
-Pensar que podia ser eu... eu e o Gustavo, ali... andando na rua. Comendo algodão doce... sendo feliz e amando muito...
Patrícia segue observando e começa a tremer de raiva, se recostando na parede de um estabelecimento. Uma senhora que passa percebe que ela está entrando em crise.
-Moça... tá tudo bem? Você começou a tremer do nada...
-Eu tenho raiva. Olha pra aquele casal! Eles ficam ali, me provocando, sendo felizes!
A senhora percebe que se trata de algo psicológico.
-Moça... qual seu nome?
-Patrícia.
-Você tá com seu celular aí?
-Estou.
-Entre comigo aqui nessa lanchonete, por favor. Eu te pago um suco de maracujá. Você toma medicamentos?
-Tomo sim. Como você sabe?
-Tenho um filho que tem um transtorno de personalidade... esqueci o nome agora... eu vejo as crises dele. Parecem com as suas.
-Transtorno de personalidade limítrofe?
-Isso mesmo. Eu sei lidar com vocês, portanto fique tranquila que eu sei evitar um soco, caso você fique agressiva.
-Já estou melhorando...
-Fique aqui. Pode me entregar seu celular, por favor?
-Não precisa. Eu sei pra quem ligar.
-Tem certeza?
-Tenho. Pode ir, querida... obrigada pela ajuda.
A senhora vai embora. Patrícia liga para Daniella.
-Alô, Dani?
-Fala, Pati...
-Eu tive uma crise na rua. Acabei de ter... preciso te ver.
-Cê tá bem? Vem pra clínica que eu te recebo...
-Tou melhor... e vou voando praí.
CORTA A CENA.
CENA 7: Gustavo procura Flavinho ao percebê-lo desanimado.
-Ei, Flavinho... não vai mesmo me dar uma força com as crianças?
-Não tou conseguindo, Gustavo. Seria pior se eu insistisse...
-Tudo bem. Só que me corta o coração te ver assim.
-Não tem nada que ocê possa fazer agora. Só o tempo...
-Sério, Flavinho... qualquer coisa que eu puder fazer, só me diz que eu nem penso duas vezes.
-Mas não tem nada a ser feito.
-Ah, quando se trata de você e da minha irmã, sempre vai ter algo que eu possa fazer, ainda mais se eu sei que ocês dois estão numa situação tão tensa e delicada como essa...
-Você não existe, sabia?
-Para com isso... ocê que é importante demais pra mim. Não vou deixar nenhum mal acontecer com você ou com a Valéria...
Flavinho se emociona, mas disfarça. CORTA A CENA.
CENA 8: Daniella pergunta a Patrícia sobre incidente.
-Fala, amiga... como foi essa crise? E o que disparou?
-Eu tava andando na rua. De repente eu vi um casal.
-Sim... e então?
-E então que eu comecei a fantasiar num primeiro momento... fiquei imaginando como podia ter sido minha vida ao lado do Gustavo...
-E daí?
-Daí que quando dei por mim, eu tava tremendo de raiva. Virou crise. Uma senhora, mãe de um filho borderline, me acudiu. Ela soube me tranquilizar rapidamente. Me pagou um suco de maracujá, inclusive.
-Ai, Pati... não tá legal ter crise assim, no meio da rua.
-Eu sei que devia me esforçar mais...
-Não, sua boba... é caso de você relatar o ocorrido pro psiquiatra pra que a receita antiga seja revista. Alguma coisa pode estar errada com a dosagem atual do remédio, sacou?
-Quer dizer que talvez seja só isso?
-Tou falando, boba... não há de ser nada. Eu preciso voltar ao trabalho agora, mas fica tranquila que isso cê resolve numa consulta...
-Obrigada, amiga...
Patrícia sai com uma expressão enigmática. CORTA A CENA.
CENA 9: Horas mais tarde, após jantar, Ricardo estranha quando vê Giovanna se arrumando outra vez.
-Ué, amor... não sabia que tinha coisa pra ser feita hoje...
-Coisa minha.
-Não quer que eu vá junto?
-Não, querido... você é ótimo, mas vou resolver uma questão. Não vou demorar, tá?
-Do que se trata?
-Desculpa, Ricardo... não é porque você é meu marido que te concedi o direito de se meter desse jeito em tudo que diga respeito a mim...
-Nossa... desculpa se pareci invasivo. Fiquei muito feliz de você ter readmitido a Glória.
-Desculpas aceitas. Mas tenta ficar de boa, tá? Antes da meia noite eu tou de volta. Você me fez perceber que errei ao demitir a Glória. Era justo que ela fosse readmitida. Preciso ir agora... volto antes da meia noite.
-Promete?
-Prometo. Agora preciso ir, senão perco a hora...
-Traz um temaki pra gente na volta?
-Pode deixar que eu trago. Até mais, amor...
-Vai com Deus, Giovanna... se cuida, meu amor...
CORTA A CENA.
CENA 10: William, ao chegar na frente de casa, relembra os momentos com Valéria e sofre por ter errado com ela.
-Se eu soubesse do grande tesouro que eu tava jogando fora... abria mão de toda essa grana, de toda essa vida... só pra ter mais uma chance com você, Valéria... - murmura consigo mesmo.
Ao entrar em casa, escuta uma conversa e vai até o escritório de seu pai, onde encontra Mauro numa animada conversa com Giovanna.
-Giovanna? Você aqui? - surpreende-se William.
-Filho, tá perdendo histórias maravilhosas que a Giovanna tá contando... - fala Mauro.
-É mesmo? Pai, posso roubar a Giovanna por um momento, por favor? - pergunta William.
Giovanna segue William, aflita. FIM DO CAPÍTULO 92.