CENA 1: Flavinho paralisa, ainda perplexo enquanto Gustavo segue falando alto para que todos escutem.
-Chega. Acabou o medo. Chega de mentira, pra mim mesmo, pro mundo, pra nós dois. Eu também tive medo, Flavinho. E mesmo tremendo de medo ainda, eu resolvi encarar e enfrentar tudo isso de frente. É ocê que eu amo. Acho que sempre amei e demorei anos, mais de década, pra perceber isso. O tamanho disso. Hoje conversando com a Dani eu tive certeza que é com você que eu sempre sonhei. É com você que eu quero uma vida. Diz que eu tenho uma chance, só uma, que eu faço o que puder pra te ver feliz. Movo o mundo se for preciso! Eu te amo, Flavinho. Sempre te amei.
Flavinho se emociona e começa a chorar, paralisado diante das palavras ditas por Gustavo. Gustavo teme que Flavinho não o aceite de volta.
-Fala alguma coisa, Flavinho! Nem que seja pra me chamar de louco e dizer que nunca vai voltar pra mim...
Flavinho, ainda fortemente emocionado, começa a falar. Todos observam aos dois na expectativa.
-Eu te amo, Gustavo. Isso responde qualquer coisa.
Gustavo se enche de coragem e, na frente de todos, se aproxima de Flavinho e o beija apaixonadamente. Flavinho corresponde ao beijo e todos, emocionados, aplaudem à cena. Flavinho e Gustavo estão tão absortos no momento que parecem não perceber o que os rodeia.
-Eu quero fazer a gente dar certo, Flavinho. Meu amor. Só meu.
-A gente tá namorando, Gustavo?
-Acho que sim, né? Quer namorar comigo?
-Sim. Sim, sim, sim! Mil vezes sim!
-Eu pensei que ocê fosse ficar bravo comigo.
-Sabe que ocê até merecia uns tapas, mesmo?
-Sabia que ocê ia sair com uma dessas. Eu sei que fui precipitado e babaca. E que tentei fugir reatando com a Dani. Foi justamente ela que abriu meus olhos.
Flavinho começa a rir. Gustavo estranha.
-Tá rindo da minha cara, é? Não conhecia esse seu lado debochado.
-Deixa de ser bobo, Gustavo. Eu te perdoei faz tempo. Não perdoava era a mim por ter sido tão preconceituoso com você. Não me esforcei em te entender, só olhei pra tudo pelo meu próprio ponto de vista. Te julguei e te condenei tantas vezes! E você ali... sempre disponível. Sempre de braços abertos, apesar de tudo. Me perdoa?
-Nunca me passou pela cabeça que eu fosse me ressentir. Não tem o que perdoar. De verdade.
-Eu acho que eu sempre te amei.
-Eu não acho.
-Não? Quando é que a coisa mudou?
-Não mudou.
-Uai... não entendi.
-Acho que sempre foi amor. Mas a gente precisava passar por tudo que passou pra chegar até aqui. E pode ter certeza que é com ocê que eu me vejo no futuro.
-Eu não sei o que te dizer.
-Só sorri pra mim. Sorria sempre. Eu quero sempre te ver feliz, com um sorriso bem estampado nesse seu rosto. Isso também vai me fazer feliz.
Os dois se beijam. Bernadete e Leopoldo se emocionam assistindo a tudo. CORTA A CENA.
CENA 2: Um trio de adolescentes, filhas de convidados à cerimônia de casamento circulam indignadas pelo quintal, entre as árvores e conversam entre si, ainda demonstrando clara revolta.
-Ai, não acredito, Bruninha! - fala uma delas.
-Nem fala, Ariana! Que desperdício! Eu tava quase crushando o do cabelo enroladinho! - fala outra.
-Eu tava de olho no meio barrigudinho ali. Gente, que gato! Mas não... tudo viado! Esse mundo tá mesmo perdido. Quando tem homem bonito dando sopa, eles não querem saber de nada com mulher! Ai que raiva, viu? Tinha que colocar aquele militar na presidência e mandar esses viado tudo pra fora do país! - protesta a última.
Leopoldo, Nicole, Bernadete e Sérgio escutam conversa delas. Bernadete e Leopoldo resolvem intervir. Valéria e Hugo acabam prestando atenção.
-Os pais de vocês não deram educação pra vocês, não? Homofobia é feio, sabiam? Devia até ser crime! Antes de apontarem o dedo pros outros, olhem pra si mesmas! Cuidem de vocês e das suas famílias. - fala Bernadete.
-É isso aí! Nunca viram duas pessoas que se amam? Ocês deviam superar esse negócio de gênero! Ocês ainda são muito jovens e podem aprender com o tempo. - fala Valéria.
-Isso mesmo, garotas! Vocês são jovens demais pra serem tão amargas e cheias de preconceito desse jeito! A gente tá em dois mil e dezessete, praticamente dois mil e dezoito. É tempo de rever essas coisas aí e deixar as pessoas se amarem como elas são. E tem mais uma coisa: se vocês estiverem tão incomodadas, falem com os pais de vocês e peçam pra ir embora, porque essa é a nossa festa e é a nossa casa. Então, os incomodados que se retirem, se assim desejarem. Flavinho e Gustavo são de casa! - sentencia Leopoldo.
Todos aplaudem atitude dele. CORTA A CENA.
CENA 3: Na manhã do dia seguinte, Gustavo desperta na cama de Flavinho, dormindo agarrado com ele. Gustavo sorri satisfeito e suavemente acorda Flavinho.
-Amor... acorda. Já é de manhã.
-Ai, que horas são?
-Já passa das oito.
-Nossa senhora! Dormimos mesmo, hein?
-Também, depois da maratona dessa noite...
-Que fôlego a gente teve, socorro!
-Tou com uma fome do caramba!
-Gustavo... eu tou morto de preguiça de descer. Ocê pode buscar alguma coisa pra mim depois que comer lá embaixo?
-Eita. Mas nem sei se tenho essa liberdade.
-Eu te dou essa liberdade. Essa casa também é minha.
-Gostei da firmeza. Tou indo.
Gustavo desce e Bernadete o chama.
-Bom dia, querido!
-Bom dia, dona Bernadete...
-Só Bernadete, bobo. Ainda mais que agora eu sou sua sogra, né?
-Tudo bem...
-Querido... agora que você se acertou com o Flavinho, eu queria te pedir uma coisa.
-Fala...
-Tenta fazer ele desistir de voltar pra Minas. O lugar dele é aqui, com a gente...
Nesse momento, Flavinho desce e ouve a conversa deles.
-Mãezinha... eu e o Gustavo conversamos sobre isso antes de dormir. Eu e ele vamos voltar pra BH. Ele já tá programando de acertar as pendências por aqui. - esclarece Flavinho.
-Amor, cê não tava com preguiça? - pergunta Gustavo.
-A fome foi maior. - fala Flavinho.
-Bem... pelo menos sabendo que vocês vão juntos eu já fico mais tranquila... - alivia-se Bernadete.
CORTA A CENA.
CENA 4: Durante café da manhã, Cristina e Fábio fazem planos para o futuro.
-Fábio... já parou pra pensar no que vai ser da gente depois que esse nosso filho nascer?
-Ainda não muito. Você pensou?
-Meio que sim. Quer ouvir o que andei concluindo?
-Por favor, Cris.
-Acho que a gente deve oficializar nossa união, transformar em casamento.
-Finalmente! Pensei que nunca mais ia ouvir isso...
-Bobo. Mas tem uma coisa nisso tudo.
-O que?
-Eu acho mais prudente a gente levar adiante a ideia do casamento depois que o bebê nascer. Sabe como é, né? A questão da gravidez de risco por si só é uma ameaça em diferentes níveis.
-Credo, amor! Bate na madeira! Nem fala uma coisa dessas...
-Amor, a gente precisa ser realista. Eu mais que ninguém quero viver e que o nosso filho viva. Mas a gente sabe muito bem em que vespeiro a gente tá metendo a mão... e é preciso encarar essas possibilidades.
-Então pra mim tá certo. Se a gente passar incólume por essa tempestade, a gente casa de vez.
-Maravilha.
CORTA A CENA.
CENA 5: Vitório bate no apartamento de Fábio desesperado e Cristina o atende.
-Que cara é essa, cara?
-Eu tou desesperado!
Fábio vê que se trata de Vitório e o convida a entrar.
-Entra, Vitório. Você é de casa. - fala Fábio.
-Fala o que tá acontecendo, cê tá tremendo... - constata Cristina.
-Vou voltar pra dentro que a Arlete sujou a fralda. - anuncia Fábio.
Vitório começa a falar.
-Cristina... eu recebi há menos de meia hora uma notícia horrível.
-O que?
-Eu provavelmente vou ser deportado.
-Mas por que?
-Aparentemente teve mafioso que era associado a mim sendo preso. Não quiseram entrar em detalhes.
-Ah, não! Que coisa chata, meu amigo! Logo agora que as coisas estavam se assentando pra você...
-Pelo menos esse aprendizado eu levo comigo. Mas dói saber que ainda sou cobrado pelos crimes que cometi. Não tenho opção a não ser encarar tudo isso.
-Mas agora redimido. Com amigos que acreditam sempre em você.
Vitório abraça Cristina e chora. CORTA A CENA.
CENA 6: Giovanna alisa sua barriga enquanto ainda está deitada em sua cama. Seu pensamento ganha voz.
“Eu queria tanto que dentro de mim ainda existisse a chance de ser mãe. Mas hoje eu sinto que tou seca. Acho que no final das contas eu sempre fui isso. Seca. Infértil. Indigna de ser mãe.”
Giovanna começa a chorar.
“Enquanto isso a vida passa por mim. Acumulei títulos. Prestígio. Fama. Dinheiro. Pra que? Pra entender que nada disso nunca nessa vida vai substituir afetos verdadeiros. Eu achava que ia ter o Hugo pra sempre. Me enganei e fiz questão de continuar me enganando. Pisei nas pessoas pra me sentir bem comigo mesma. Só pra não ter que encarar de frente o deserto que é de verdade a minha vida...”
Giovanna chora de soluçar e aos poucos se acalma, começando a falar consigo mesma.
-Vamos, mulher. Reaja! Não se entregue! A dor vai continuar doendo, mas ela não pode te cegar. Não de novo. Já fiz muita merda nessa vida por causa dessas ausências e cegueiras. Preciso me manter focada!
CORTA A CENA.
CENA 7: Gustavo e Flavinho conversam com Bernadete e Leopoldo no quintal da mansão.
-Mas queridos... vocês não acham que agora que estão juntos, podem reconsiderar? Gustavo, cê pode vir até morar aqui, se quiser. Deixaria de pagar aluguel. - fala Leopoldo.
-Eu agradeço pela proposta, mas não me sentiria bem. Desde menino aprendi a me virar sozinho. Eu e a Valéria somos assim. Ela só mora aqui porque acabou se entendendo com o Hugo, porque senão já tinha procurado outro lugar pra ficar. - fala Gustavo.
-Não esperava outra atitude sua, meu querido. Você é exatamente como a sua irmã: reto e honrado. Só que mesmo sabendo que o Flavinho tá nas melhores mãos possíveis, me dá uma dor no coração de saber que vocês vão pra longe daqui... - desabafa Bernadete.
-Mãe... BH não é Japão. Não é o outro lado do mundo. Umas horinhas de carro e vocês chegam lá. Assim como a gente pode vir aqui sempre que puder. - justifica Flavinho.
-Quando vocês partem, meninos? - pergunta Leopoldo.
-Eu por mim esperava mais um mês... - fala Gustavo.
-Mas a gente decidiu reduzir esse tempo. Em duas semanas a gente parte pra BH. É o tempo do Gustavo acertar as coisas na clínica. - explica Flavinho.
-Gustavo, meu querido, cê convence esse taurino cabeça dura a ficar por aqui mais um mês? Eu compro a mobília da casa de vocês! - brinca Bernadete.
Todos riem. Flavinho se emociona.
-Gente... vai ser melhor assim. Vocês foram, são e sempre vão ser a minha família. A minha única família, porque foi a que o coração escolheu. Vou ser sempre grato por tudo. Até pelos conflitos. Porque tudo isso me fez perceber que eu sou mesmo parte dessa casa, dessa família. Que eu sou amado. Que eu tenho a sorte de ter uma mãe viva nesse mundo ainda. E um pai que demorou a me entender. - fala Flavinho.
Leopoldo se emociona fortemente.
-Agradeço por essa sorte imensa que a vida me deu. Deus me levou um filho e trouxe outro ao mesmo tempo. Só posso pedir perdão por tudo o que te fiz passar por conta do meu conservadorismo besta, Flavinho. Você é e sempre vai ser meu filho. Meu coração sente isso. E eu te amo.
Os dois se abraçam, emocionados. CORTA A CENA.
CENA 8: Glória e Ricardo conversam e Glória confessa ainda ter medo de Giovanna.
-Amor, cê vai achar muita loucura se eu te disser que ainda tremo na base quando vejo a Giovanna?
-Não vou achar. Você tem seus motivos. Afinal de contas ela já me envolveu.
-Ricardo... não é por isso. Essa parte já foi superada faz um bom tempo. Eu fico mesmo é com medo dela.
-Medo? Logo você que sempre foi tão valente?
-A Giovanna é feita de uma matéria que eu não sei e não consigo sinceramente decifrar.
-Acho exagerado isso. Ela tem transtorno mental. Tá em tratamento.
-É esse transtorno que me assusta. Acho que ela não tinha que ter voltado ao trabalho agora, quebrando o tratamento.
-Mas ela segue voltando pra clínica durante a semana.
-Tem alguma coisa que me cheira mal nisso. E eu não gosto de ter essa sensação...
CORTA A CENA.
CENA 9: Dias depois. Cristina e Fábio visitam Vitório, que chora desconsolado.
-Não sei mais o que fazer, gente. Eu devo ser deportado em uma semana e tenho medo de me deparar com o que me espera lá na Itália. - fala Vitório.
-Cara... encara de frente. Sério mesmo. Você tem força de caráter, meu amigo. Eu duvidei disso, mas hoje sei que tem. - estimula Fábio.
-Exatamente, Vitório. Seja o que for que você tiver de passar ainda, tenho a mais absoluta certeza de que você vai conseguir encarar de frente, enfrentar e vencer. Confie nisso. - fala Cristina.
-Vocês são mesmo incríveis. Não mereço tanto! - fala Vitório, emocionado.
CORTA A CENA.
CENA 10: Valéria se queixa para Giovanna sobre seu carro ter quebrado.
-Ai, amiga. Meu carro ficou parado na garagem, acredita?
-O que será que aconteceu?
-Problema na injeção eletrônica, parece. Vou passar em casa pra saber. Só tou com uma preguiça danada de chamar o carro pelo aplicativo.
-Não precisa.
-E vou como, Giovanna? Voando ou me teletransportando?
-Te dou uma carona.
-Sério?
-Seríssimo.
Valéria acompanha Giovanna, que lhe dá carona. Instantes depois, Valéria estranha o caminho que Giovanna faz.
-Ói, ocê vai me desculpar pela ignorância, mas nunca imaginei esse trajeto pra chegar lá em casa... é atalho?
Giovanna nada responde e Valéria estranha.
-Giovanna, eu tou falando com você...
-Eu sei, Valéria. Eu sei.
-Então me explica esse atalho que eu faço da próxima vez.
-Não vai ter próxima vez, vadia.
-Para de brincadeira, doida.
-Não tem brincadeira nenhuma aqui, mineirinha. Acabou pra você.
Valéria se apavora. FIM DO CAPÍTULO 186.
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