quinta-feira, 8 de junho de 2017

CAPÍTULO 178 - ÚLTIMAS SEMANAS

CENA 1: Cristina é pega de surpresa por pedido de Flavinho e custa a acreditar.
-Espera... eu acho que cê pode estar de cabeça quente, dá tempo de reavaliar tudo isso.
-Não dá, Cris. Eu amo o que faço. Mas não tá mais dando.
-Então se você ama, não entendo a razão de você vir aqui me pedir demissão. Não faz sentido...
-Faz sentido porque eu não consigo mais dar o melhor de mim. E a culpa é minha.
-Para com isso, Flávio. Você é um dos melhores por aqui. Não sei mais como vai ser essa clínica sem você.
-Eu não tou sendo mais útil como era. A culpa é minha, das escolhas burras que eu fiz.
-Querido, independente do que esteja te acontecendo, essas suas escolhas aí não fizeram a mínima diferença no excelente profissional que você é. Disso, você pode ter certeza.
-Não, Cris... eu não rendo mais como antes. Não quero me tornar um peso ou ficar aqui só por conveniência.
-Você tá ciente de que pedindo demissão vai perder alguns direitos, certo?
-Sei sim. Eu tou disposto a arcar com isso.
-É uma pena, Flavinho. Você é um dos melhores daqui. Isso se não for propriamente o melhor. Até mesmo o Gustavo não é tão brilhante.
-Não precisa exagerar. E o Gustavo é sim brilhante. Ele consegue fazer muito mais e melhor que eu.
-É por causa dele, não é?
-Cris... eu prefiro não falar nisso.
-Direito seu. Desculpa se toquei num ponto delicado seu.
-Sem problema. Eu queria que ocê entendesse que não é nada com você ou a Dani. Nem com a clínica. Eu amo tudo isso aqui. Mas não ando bem. Não ando de bem comigo mesmo. E isso dói. Me limita. De um jeito que eu não posso deixar continuar estando aqui. É só por isso que eu peço demissão.
-Não tenho outra saída... tenho?
-Desculpa, Cris. Não tem.
-Tá certo. Eu admiro a sua franqueza e o seu coração aberto. Eu vou dar um jeito de te garantir pelo menos seguro desemprego.
-Mas isso não é o certo... eu tou pedindo demissão.
-Eu vou encaminhar de outra forma ao RH e não vai ter nada de errado. Você só vai precisar confirmar que eu te demiti.
-Mas não é verdade.
-Ninguém precisa saber. Querido, você sempre foi incrível. Reto até debaixo dágua. Eu tou fazendo isso porque você merece. Também é meu modo de te dizer que antes de mais nada eu sou sua amiga, que quero te ajudar no que for preciso, se você me pedir ajuda.
-Cris... eu nem sei como te agradecer.
-Me agradeça ficando bem.
-Vou tentar.
-Não tente. Lute. Eu sei que cê consegue muito mais se aprender a lutar pelo que quer nessa vida.
-Não sei se posso.
-Pode sim, eu tenho certeza que pode. Eu vou encaminhar a sua demissão.
CORTA A CENA.

CENA 2: Instantes depois, Flavinho assina a papelada de sua demissão no RH da clínica e vai se despedir de todos. Gustavo estranha quando vê Flavinho abraçado a Júlia, emocionado.
-Que é que tá pegando aqui, Flavinho? Que choradeira é essa? - pergunta Gustavo.
-Fui demitido, Gustavo. É isso. - explica Flavinho.
-Não pode ser! Eu vou falar com a Cristina agora mesmo! - revolta-se Gustavo.
Flavinho o segura pelo braço.
-Vem comigo. Eu te explico. Não vai lá agora que ocê não sabe da missa a metade.
Gustavo segue Flavinho até que eles fiquem completamente sozinhos.
-Vai me falar o que tá acontecendo? Que palhaçada é essa de ocê ser demitido do nada? Vou reclamar com a Cristina sim! Ela tá pensando que pode demitir assim, do nada? Não pode.
-Gustavo, me escuta. Fui eu que pedi demissão. Eu praticamente implorei pra ser demitido, só que ninguém na clínica pode saber disso.
-Tou começando a entender...
-Sim. Ela fez parecer que foi ela que decidiu me desligar, mas na prática não é o que aconteceu.
-Eu só não entendo como é que ocê teve capacidade de pedir demissão daqui... logo aqui, que é um ambiente de trabalho que eu sei que ocê ama... não tem o mínimo sentido isso.
-Ocê sabe que tem sentido. E sabe porque tou abrindo mão de trabalhar aqui. É pra doer menos.
-Eu não sabia...
Gustavo abraça Flavinho e os dois choram.
-Conta comigo sempre. Eu falo isso de coração. Apesar de tudo, Flavinho, eu te amo.
-É isso que maltrata. Eu não sei se eu desejo contar com você mais. Não sei se vai me fazer bem. Tou buscando essa distância pra curar essas feridas. Elas são minhas. Fui eu quem criou... mas estar perto de você não vai ajudar.
CORTA A CENA.

CENA 3: Cristina percebe tristeza de Gustavo e o chama.
-Gustavo, vem cá. Me fala o que tá acontecendo...
-Nada. Quer dizer... tou chateado que o Flavinho foi embora daqui da clínica, óbvio...
-Não é só isso. Vem comigo na minha sala.
-Ocê não vai me demitir, vai?
-Deixa de besteira. Eu sei que você sabe que foi o Flavinho que pediu desligamento, não precisa dissimular pra mim. Eu deixei ele contar pra você. Só pra você.
-Então qual é a razão de ocê querer falar comigo?
-Quero te fazer uma pergunta e preciso que você me responda com a maior sinceridade possível.
-Pode perguntar, uai.
-Cê tem certeza de que realmente quer casar com a minha irmã?
-Uai, claro que tenho! Pra que essa pergunta?
-Porque eu vi do jeito que você ficou quando soube que o Flavinho se desligou daqui da clínica.
-É pela amizade, né...
-Espero realmente que seja. Eu sei da história que cês tiveram. Não te julgo por isso. Só quero ajudar, se for preciso.
-Não é preciso. Tá tudo certo. É com a Dani que eu quero ficar.
-Se você diz, eu acredito.
-Pode acreditar.
-Tá certo. Pode voltar pro trabalho e encerrar o dia.
CORTA A CENA.

CENA 4: José, Idina, Idalina e Maurício se despedem de Elisabete e Maria Susana, que partem com Miguel em voo para Curitiba. Maurício lamenta a ausência de Fábio.
-É uma pena, gente, uma grande pena que meu pai não esteja nem aqui no Brasil. Queria ele aqui... - fala Maurício.
-Sei que não deve ser fácil, ficar assim sozinho no mundo... - constata Idalina.
-Besteira, dona Idalina. Já sou adulto. Independente também. Eu só sinto pelo fato dele não estar aqui nesse momento tão importante na vida da minha mãe. Tenho certeza de que ele viria aqui e desejaria toda a sorte do mundo se não estivesse praticamente fugido lá na Espanha... - explica Maurício.
-Entendi. Mas me fala uma coisa, Maurício: cê vai mesmo ficar lá na casa delas? - pergunta José.
-Sim, combinei com a minha mãe e com a Maria Susana. Vocês podem aparecer por lá sempre que quiserem, inclusive. A casa é grande e eu gosto de receber as pessoas, reunir gente, pra falar besteira e se divertir... - fala Maurício.
-A gente vai mesmo. Inclusive eu pensei que já que você é de esquerda também, podia até receber a gente em reuniões de articulação, se for o caso... - sugere Idina.
-Taí. Acho que as meninas aprovariam isso. - observa José.
-Adorei a ideia. Acho incrível isso e um dia até penso em me juntar mais ativamente à militância. Ainda mais porque admiro imensamente a trajetória da Larissa Gama e confio demais no que tanto ela quanto todo o pessoal do partido tem de concreto... - fala Maurício.
CORTA A CENA.

CENA 5: Valéria e Hugo percebem que Giovanna está triste e procuram conversar com ela.
-Giovanna... que tristeza é essa? - pergunta Hugo.
-Não tou triste... - fala Giovanna.
-Tá sim. A gente tá vendo. Ei, não precisa se acanhar, não. Pode se abrir com a gente que a gente vai ouvir. - fala Valéria.
-Eu não queria falar sobre essas coisas com vocês, gente. A gente tá viajando. Aproveitando Minas Gerais... não acho justo. - fala Giovanna.
-Não é justo você passar por cima do que sente em benefício de uma falsa paz. - pontua Hugo.
-O Hugo tá certo, Giovanna. Fala pra gente o que tá acontecendo e o que ocê sente... a gente não quer e não vai te julgar. - fala Valéria.
-Sabe o que é, gente? Eu ainda sinto dor. E culpa. Não é certo nem saudável, eu sei. Não faz bem pro meu tratamento, mas eu não posso fingir que não sinto essas coisas. Não quero alimentar nada disso, mas eu sinto tudo isso sim. Muita culpa. Muita dor por tudo o que eu fiz de errado, comigo mesma e principalmente com as pessoas que eu enganei. Incluindo vocês. Eu fui uma pessoa horrível. E por mais que eu tente apagar isso, isso não tem como sair da minha história. São manchas que vão me acompanhar pra sempre. Essa culpa é uma coisa que não sai de mim, por mais que eu tente... - desabafa Giovanna, chorando.
Valéria e Hugo abraçam Giovanna.
-Querida... esses erros são comuns. Mais do que ocê pensa. Ninguém nessa vida é santo. - fala Valéria.
-A prova disso sou eu. Mas sempre tem tempo de mudar. - fala Hugo.
-Tenho muita sorte de vocês ainda acreditarem minimamente em mim depois de tudo... - fala Giovanna, ainda emocionada.
CORTA A CENA.

CENA 6: Mônica chama Bruno para uma conversa.
-Precisa me passar alguma coisa?
-Na verdade eu queria te parabenizar, Bruno.
-Ué, por que?
-Por tudo.
-Não entendi.
-Seu crescimento como ser humano nesses últimos meses foi incrível, é impressionante o salto que cê deu desde que começou a namorar com a Geórgia.
-Ah, deixa disso, se alguém merece os parabéns, é ela!
-De jeito nenhum. Se você não se dispusesse a mudar e não colaborasse nesse sentido, nada teria acontecido. Todos os esforços dela teriam sido absolutamente em vão. E que bom que não foram.
-Ai, para que assim eu chego a ficar emocionado...
-Pode chorar, bobo. Não tenha vergonha de demonstrar sentimentos... isso te faz ainda mais humano.
-Lá na Argentina eles aceitam qualquer coisa, menos o choro. Pode gritar, berrar, espernear, mas chorar nunca.
-Aqui pode. Aqui é Rio de Janeiro, aqui é Brasil. Querido, você tava só perdido. Se achando desprestigiado. Mas que bom que isso mudou, que bom que isso acabou. Fico cheia de orgulho de saber disso, por perceber o homem que você realmente é. E ainda se tornou um cara íntegro, compromissado com o próprio trabalho. Pensei que demoraria mais, mas você melhorou muito!
-Eu agradeço pelo seu olhar generoso sobre mim. Mas não foi tão fácil.
-O que importa é que cê conseguiu. O resto a gente corre atrás do jeito que a vida for lançando no caminho da gente.
CORTA A CENA.

CENA 7: Flavinho explica a Bernadete motivo que o levou a pedir demissão da clínica.
-É isso, mãe... eu pedi demissão da clínica porque tava ficando pesado pra mim.
-Mas filho... não era um trabalho que cê ama?
-Era e é. Mas tava pesado por outros motivos.
-Tem a ver com o Gustavo?
-Sim. Eu não aguento mais.
-Pensei que vocês fossem amigos.
-Somos, mas tá pesado pra mim.
-Querido, eu queria muito poder te ajudar nisso, de coração, mas tudo isso aconteceu de certa forma por sua responsabilidade.
-O duro é reconhecer isso.
-Filho... você deixou o caminho aberto pra ele voltar pra irmã da Cristina...
-Eu sei disso. Não precisa jogar na cara, mãe.
-Querido, eu não tou jogando na cara. Eu tou só falando que nada disso justifica o seu pedido de demissão.
-Justifica. Eu não suportava mais conviver com ele sofrendo por tudo isso.
-E cê acha justo sacrificar o trabalho que cê ama?
-Justo não é. Mas foi a saída que eu encontrei.
-Pena.
-Eu fui fraco, mãe. Nem sempre sou forte.
Bernadete abraça Flavinho. CORTA A CENA.

CENA 8: Maurício liga para Cristina, que o atende prontamente.
-Fala, Maurício. Precisando falar de alguma coisa?
-Sim, mas teria como ser pessoalmente?
-Quando?
-Mais tarde.
-Ainda hoje?
-Sim.
-Depois das dez tá bom?
-Perfeito.
-Fechado. Até mais tarde.
Cristina desliga e estranha. CORTA A CENA.

CENA 9: Flavinho volta a procurar Bernadete.
-Eita, filho... quer desabafar mais?
-Não. Na verdade eu vim te comunicar um negócio.
-Nossa... o que é, querido?
-Eu não sei mais se quero continuar vivendo desse jeito.
-Que?
-Não se preocupa, mãe... eu não vou me matar, não sou desses. Mas quero ressignificar minha vida.
-Ainda não entendi.
-Depois que ocê casar eu quero voltar pra BH.
Bernadete se espanta. FIM DO CAPÍTULO 178.

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