CENA 1: Giovanna se entristece pela insistente desconfiança de Flavinho e tenta conversar com ele.
-Flávio, eu juro pra você que cê tá completamente enganado a meu respeito. Sei que te dei todos os motivos do mundo pra ter uma péssima impressão sobre mim. Mas eu tenho me transformado demais nesses últimos meses. Aprendi muito com as dores que vivi.
-É inegável que ocê passou por dores. Só que eu não sou trouxa. Duvido que ocê realmente tenha aprendido alguma coisa. Gente do seu tipo nunca aprende.
-Flávio... por favor. Só um pouco mais de confiança. É tudo o que eu peço. Um único voto de confiança e você não vai se arrepender.
-Giovanna... olha bem pros meus olhos. Tá prestando bem atenção neles?
-Sim.
-Agora vê se eu tenho vocação pra ser feito de idiota.
-Nossa, Flávio... eu não sei porque cê faz isso comigo. Eu não posso passar o resto da minha vida sendo punida pelos erros que eu cometi no passado.
-Tem razão. Mas não sou eu que te julgo.
-Imagina se julgasse, como é que ia ser. Flávio, você não conhece minha história e nem sabe o que eu passei.
-Nem quero saber, fofa.
-Posso entrar ou vai ficar bloqueando a minha entrada? A casa não é só sua...
-É isso que eu queria ver. Esse seu atrevimento. Entra... mas só entra porque não sou eu que vou viajar contigo.
-Podia aprender pelo menos a ser mais agradável, tendo um padrão de vida de alto nível, né?
-Eu não vou nem dizer onde ocê deve enfiar essa sua etiqueta e elegância fake...
-Só queria que cê pudesse confiar que eu mudei.
-Esquece isso, Giovanna. Eu jamais vou confiar em pilantras como ocê.
Valéria e Hugo chegam nesse momento e se espantam com tensão criada por Flavinho.
-Flavinho... sobe. - ordena Valéria.
-Desisto. Ocês não enxergam mesmo... - fala Flavinho, subindo.
Hugo fica constrangido.
-Giovanna... desculpa o meu irmão... ele realmente não consegue ir com a sua cara... - fala Hugo.
-Não posso obrigar as pessoas a acreditarem em mim, mas dói... - desabafa Giovanna.
-Relaxa, Giovanna... o Flavinho é taurino, bem cabeça dura. Mas com o tempo ele vai ver que tava errado. Deixa o barco correr... - contemporiza Valéria.
CORTA A CENA.
CENA 2: Valéria e Hugo acomodam Leonardo no banco de trás do carro e Giovanna senta-se ao lado, ainda abalada pelas palavras de Flavinho. Valéria, ao sentar-se no banco da frente e olhar para trás antes de colocar o cinto de segurança, percebe expressão triste em Giovanna.
-Ei, Giovanna! Se anima! Esquece aquelas coisas que o Flavinho disse, tá? Ele vai perceber que ocê mudou... - fala Valéria.
-É difícil não me abalar com as coisas que ele disse. Porque não posso nem tirar a razão dele... dele e de todo mundo que tem motivos de sobra pra nunca mais nessa vida acreditar em mim. - fala Giovanna.
-Se você sabe disso, não vale a pena se abalar desse jeito. Giovanna. As pessoas podem acreditar ou não em você. Isso não vai mudar quem você realmente é por dentro... - fala Hugo, arrancando o carro.
-Exatamente, Giovanna. Eu sei que não é fácil lidar com essas coisas. Sei como ocê se sente porque quando eu tava no ensino médio, eu já fui bastante difamada, então sei como é a sensação das pessoas não acreditarem em você por mais que ocê tenha certeza de estar com a consciência limpa e tranquila. Aprendi a me bastar mais ou menos por ali... e acho que nunca é tarde pra gente aprender isso. Conta com a gente Giovanna... de verdade. - fala Valéria.
-Vocês são realmente incríveis comigo. Não tenho palavras pra agradecer... - emociona-se Giovanna.
CORTA A CENA.
CENA 3: Vitório torna a dizer a Cristina que precisa entrar em contato com Vitório.
-Olha Cris, eu sei que cê já me pediu pra não entrar nesse assunto, mas eu tou sinceramente de saco cheio de te ver assim, triste pelos cantos...
-Ih, lá vem coisa. Quando cê começa com essa enrolação toda, já sei que vai jogar a batata quente no meu colo de novo. Só vou te avisando que hoje eu tou com a macaca e posso acabar sendo grossa.
-Conheço seu jeito e ele não me assusta. Eu torno a dizer que eu preciso explicar tudo pro Vitório.
-Não tem como. Seria perda de tempo. Depois, a maior possibilidade é que ele te bloqueie em todas as redes sociais, posso saber como é que cê consegue falar com ele? Saindo do país que não é...
-Eu podia aproveitar que tenho como ir à Itália e...
-Chegar acidentalmente na Espanha? Vitório, antes disso cê acaba preso de novo. Esqueceu que tá cumprindo pena, cara?
-Droga!
-Querido, eu sei que a sua intenção é só ajudar. Mas é aquela coisa: muito ajuda quem não atrapalha. Não há realmente nada que possa ser feito nesse momento. Talvez o Fábio até me odeie depois de saber dessa farsa toda. Melhor não perder seu tempo com isso...
CORTA A CENA.
CENA 4: Daniella acompanha Patrícia na rodoviária e aguarda com a amiga a saída do ônibus que a levará para Belo Horizonte.
-Agora que tá chegando a hora tá me batendo uma tristeza, Dani. Era melhor eu ter ido na calada da noite. Ia evitar de me despedir.
-Será que não ia ser pior, Pati?
-É que eu nunca soube lidar com despedida, Dani. De verdade.
-A gente aprende.
-Nem fala. Eu aprendi demais nesse último ano. Nada disso teria sido possível sem você. Minha vida mudou pra sempre e mudou pra melhor graças a ocê. Porque quando ninguém me estendeu a mão, quando todo mundo parecia ter desistido de mim, ocê não desistiu. Acreditou em mim, foi capaz de passar por cima das coisas graves que eu já fiz nessa vida.
-É que eu sempre gostei de você. De graça. Acho que a gente se encontrou pra ser feito irmãs mesmo, sabe?
-Sei. Meu ônibus vai partir. Eu dou notícias quando chegar, tá?
-Vai com os Deuses, querida. Seja feliz.
CORTA A CENA.
CENA 5: Valéria, Hugo e Giovanna chegam à casa alugada em Belo Horizonte. Giovanna elogia o lugar.
-Gente, que lugar bem simpático! Confesso que eu não esperava por uma casa tão luxuosa e aconhegante ao mesmo tempo... - fala Giovanna.
-Ah, é que aluguel rachado é assim mesmo, boba. A gente dividiu essa conta em três partes. Nada mais natural que não te pareça tão caro assim, mas se fosse uma pessoa só pagando, ia sair bem salgado até pra gente, viu? - observa Valéria.
-Vocês mulheres são mesmo exageradas, hein? Tudo bem que esse lugar é caro, mas não ia ser suficiente pra quebrar nenhum de nós aqui. - fala Hugo.
-Ah tá Hugo, cê acha mesmo que vai bancar o machista diante da gente e nós vamos ficar quieta? Como diria Mama Ru, hoje não, Satã! - brinca Giovanna.
Os três riem. Valéria percebe que Leonardo está resmungando.
-Queridos, o Leozinho tá resmungando. E sei que isso não é fome. Ele deve ter feito xixi e tá pedindo pra eu trocar ele. Já volto, queridos... - fala Valéria.
Hugo percebe que Giovanna olha perplexa para tudo.
-Que assombro é esse, Giovanna?
-Assombro nenhum, Hugo. É que eu fico admirada, sabe?
-Por que?
-Com tudo isso. Por estar aqui, em paz. Comigo mesma e com vocês. Depois de tudo o que a gente já passou...
-Relaxa, boba. Aqui é só leveza pra todo mundo...
CORTA A CENA.
CENA 6: Flavinho desabafa com Bernadete sua preocupação em relação à viagem de Valéria e Hugo.
-Não consigo ficar em paz com essa viagem deles...
-Devia. Eu sei que é difícil de acreditar que a Giovanna realmente mudou, mas faz meses que ela tá constante nessa coisa de ser uma pessoa melhor.
-Que seja. A mim continua não convencendo. Acho temerária demais essa decisão do Hugo e da Valéria irem com ela pra BH...
-Temerária é a vida, meu filho. Não se pode viver sem se correr riscos. E olhe que é bem difícil para eu mesma admitir isso, porque sempre tive medo de muita coisa. Só que tem coisas que não tem como a gente prever ou evitar.
-Mas Bernadete, eu sinto que isso ainda vai dar ruim...
-Será que cê não tá sendo pessimista demais?
-Queria acreditar nisso. Mas alguma coisa na Giovanna não me desce. Tem alguma coisa nessa história toda que não me convence.
-Compreendo, querido. Ela nos enganou por mais de dez anos. Eu também fico com um pé atrás. Mas concordo com a Valéria quando ela diz que nessa vida, todo mundo merece uma segunda chance.
-Sim, mas tem sempre quem se aproveite disso, não dá pra gente esquecer.
-Essa é uma verdade. Mas acho meio inútil pensar nessas coisas agora.
-Impossível é não pensar. Sinto medo. Por todos nós.
-Acho isso um tanto quanto exagerado... mas compreendo as razões desse seu medo. Confia em Deus, querido...
-Em Deus eu confio. Não confio é na Giovanna. Nem um pouco.
-Cê vai ver como todo mundo vai voltar daqui alguns dias mais tranquilo ainda...
-Quero muito acreditar nisso...
CORTA A CENA.
CENA 7: Dois dias depois. Cristina está no trabalho e, sentada em sua mesa, relembra conversa com Vitório.
-Conheço seu jeito e ele não me assusta. Eu torno a dizer que eu preciso explicar tudo pro Vitório.
-Não tem como. Seria perda de tempo. Depois, a maior possibilidade é que ele te bloqueie em todas as redes sociais, posso saber como é que cê consegue falar com ele? Saindo do país que não é...
-Eu podia aproveitar que tenho como ir à Itália e...
-Chegar acidentalmente na Espanha? Vitório, antes disso cê acaba preso de novo. Esqueceu que tá cumprindo pena, cara?
-Droga!
Cristina, ao voltar da lembrança, sente uma forte pontada na barriga.
-Ai credo, que cólica horrorosa! Se eu não estivesse grávida, ia jurar que isso aqui era prenúncio de menstruação. Será que eu não tou me estressando demais outra vez? Eu não me emendo, mesmo...
Cristina tenta focar no trabalho. CORTA A CENA.
CENA 8: Giovanna chega com sacolas e as coloca sobre a mesa. Hugo vai até ela.
-Precisa de ajuda?
-Não. Só comprei o básico pra mais esses dias. Aliás, cê podia liberar espaço na geladeira pra mim, sim... pode ser?
-Claro que pode...
-Cadê a Valéria?
-Foi dar uma volta com o Leozinho. Entrou naquelas de querer mostrar pro filho a terra natal, vê se pode...
-Como se um bebê que nem um ano tem ainda fosse lembrar disso... mas é bonito ver como ela sempre pensa em incluir o filho em tudo.
-E não é?
-Sem falar nesse bairro, gente... que encanto que é. Mesmo tendo gente mais endinheirada morando aqui, é tudo de um despojamento tão incrível que chega a ser elegante. Uma lição aos cariocas mais exagerados, diga-se de passagem...
-Sabe que eu achei a mesma coisa, Giovanna? Bem naquela coisa que as professoras de etiqueta dizem pra gente: menos é mais. E não é que é, mesmo?
-Exatamente. Dá até pra entender de onde vem toda a classe e finèsse naturais da Valéria. É dessa cidade, com certeza.
-Não tenho dúvida!
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 9: Cristina anda pelos corredores da clínica quando sente uma nova pontada na barriga e se encolhe, sentando num banco. Flavinho, que passa por ali no mesmo instante, a acode.
-Tá tudo bem, Cris?
-Não. É a segunda vez que eu tenho uma cólica horrorosa hoje, não tou nada bem e sei que isso não é bom sinal.
-Vem comigo. Se apoia no meu ombro que eu já chamo a Júlia.
Quando Cristina se levanta, Flavinho percebe que ela está sangrando e se assusta.
-Cristina... eu não quero te deixar muito assustada, mas ocê tá sangrando e não é pouco...
Cristina se apavora. FIM DO CAPÍTULO 174.
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