sexta-feira, 18 de novembro de 2016

CAPÍTULO 5

CENA 1: Hugo se recusa a acreditar no que Daniella diz.
    -Isso deve ser uma pegadinha da sua irmã. Claro! Vocês sempre unidas nas brincadeiras e trollagens... é uma brincadeira, não é?
    Daniella olha seriamente para Hugo, sem dizer nada.
    -Não é uma brincadeira? Me explica isso direito, Daniella. Agora!
    -O Vitório voltou.
    -Vitório? Quem é Vitório? Pera... eu tou me lembrando. O Vitório é o cara que abandonou a Cris tem quase três anos, não é? Aquele sujeito que não deu notícias, não explicou nada, simplesmente sumiu e ninguém sabia se tava vivo ou morto. A desistência da Cristina tem a ver com isso?
    -Tem. Na verdade ela fugiu com ele esta noite.
    -Como é que é? A Cristina jamais faria uma coisa dessas... ou faria?
    -Não apenas faria como fez. Hugo, desculpe eu ser tão direta, mas outra maneira de te dizer não há. É melhor saber de tudo agora do que ser poupado. Ela não sumiu, não foi sequestrada... ela foi porque quis. Foi porque nunca esqueceu o Vitório.
    Hugo começa a chorar, perplexo.
    -Então é verdade... como eu não percebi que esse dia ia acabar chegando? Como que não vi os sinais? Ela sempre disse que não conseguia esquecer do cara... do abandono que ela sofreu!
    -Nenhum de nós podia adivinhar. Hugo... não fica assim, por favor! Essa situação já é tão delicada, tão difícil pra todos nós...
    -E em mim? Por que ela não pensou em mim? Eu amo sua irmã, Dani! O que eu faço agora? Como é que eu chego pros meus pais e digo simplesmente que não existe mais casamento? Como é que falo pra cancelar tudo? Meu Deus... meu Deus!
    -Como você vai fazer eu não sei, Hugo. Eu sinto muito, de verdade.
    -Sei que você sente. Mas estou completamente sem rumo, agora.
    -Hugo, você é um cara de trinta anos. Não é mais nenhum menino. Como que está sem rumo? Você tem a sua carreira profissional bem sucedida, tem uma família que te ama, tem tudo. Sempre teve!
    -Mas perdi a sua irmã...
    -Querido... não se perde ninguém. As pessoas não são propriedades.
    -Não sei o que vai ser de mim... estou perdido, Daniella... você não faz ideia do quanto. Se pelo menos soubesse...
    -Não tou entendendo nada direito isso daí... como que você tá perdido, Hugo? Tá tudo no mesmo lugar, exatamente onde sempre esteve!
    -Você não entenderia.
    -Tem razão. Eu não entendo, mesmo. Um marmanjo desses achando que a vida tá acabada porque levou um pé na bunda... ai, desculpa. Falei sem pensar, juro.
    -Mas foi um pé na bunda. Você tem direito de dizer o óbvio, Dani. Só que não é só isso. Tem mais coisa...
    -E do que se trata?
    -Não posso te dizer. Mas posso te garantir que estou frito.
    -Tem a ver com seus pais?
    -Por favor, querida... não insista. Não quero te correr daqui, mas acho que quero ficar só...
    -Tudo bem, Hugo. Eu preciso mesmo fazer algumas coisas ainda na clínica, antes de encerrar de uma vez esse dia que não acaba mais... fica bem, na medida do possível. Espero que o tempo cure tudo isso...
    -Obrigado pelo apoio, Daniella... de coração.
    Daniella vai embora rapidamente e ao sair da mansão, fica intrigada.
    -Eu podia jurar que o Hugo tá apavorado com alguma coisa... e posso apostar que não é sobre a Cristina, mas... o que, minha Deusa... o que?
    CORTA A CENA.

    CENA 2: Fábio surpreende Elisabete ao chegar no apartamento após o jantar.
    -Você por aqui? Você não tinha dito que só voltava amanhã? Já brigou com a Arlete, foi?
    -Bete... se em dez anos eu nunca briguei com ela, não seria agora. Na verdade, eu vim depois de conversar com ela. Consegui agilizar a papelada e trouxe ela comigo.
    -Você parece estar mesmo com pressa de se divorciar de mim... foi capaz de largar a Arlete depois de uma bela sacanagem...
    -Me poupe das suas ironias. Não torne tudo mais difícil, Elisabete... você sabe que pressa é a úlima coisa que é possível pra esse divórcio. Ele foi protelado por anos a fio... é chegado o momento. Só preciso que você assine e nós entregamos ao juiz.
    -Preciso de um tempo, Fábio.
    -Quanto tempo, precisamente?
    -Duas semanas. É tudo o que eu preciso.
    -Então tá certo: duas semanas, nenhum dia a mais. Se puder ser um dia ou dois a menos, agradeço.
    -Eu prometo que dessa vez vou aceitar de verdade, sem voltar atrás. Tá doendo demais... mas sei que não dá mais pra fugir disso.
    -Fico feliz que você compreenda isso, minha querida. Não rasgue a papelada dessa vez, por favor.
    -Não vou fazer isso... vou deixar sob os cuidados do Maurício. Aliás... sabia que seu filho anda fazendo planos pro futuro?
    -Sabia. Ele me contou dia desses.
    -Nunca pensei que esse momento ia chegar. Mas agora percebi que ele chegou várias vezes e eu, burra, não quis ver. Me perdoa, Fábio?
    -Não tenho o que perdoar. Não posso te julgar... mas sei que você merece uma vida melhor, mais leve e mais feliz.
    -Tem razão. Minha necessidade de encarar a vida com mais esperança e otimismo é tão grande que resolvi pintar as paredes daqui de verde. Mas pelo visto nada disso foi suficiente pra me mudar...
    -Precisa vir de dentro, minha querida. Você pode e vai conseguir. Bete... eu consegui um tempo de folga do meu trabalho. Vou aproveitar esse meio tempo sem trabalhar e viajar com a Arlete. Quando eu voltar, nós nos divorciamos em definitivo, pode ser?
    -Não tem outro jeito... não é o que eu queria. Mas você quer. Resta aceitar, somente. Não posso passar a vida toda remando contra a maré... senão chego aos cinquenta, aos sessenta, aos oitenta, sem aprender nada...
    -Fico feliz que você pense assim, querida. Agora eu preciso mesmo ir. Ainda tenho que fazer algumas compras que Arlete me pediu. Fica bem, viu? Eu nunca vou te deixar desamparada...
    Fábio beija a testa de Elisabete e parte. Elisabete chora, conformada. CORTA A CENA.

    CENA 3: Arlete está na casa de seu irmão José e sua cunhada Maria Susana, após o jantar deles.
    -Desculpa ter chegado numa hora dessas, gente. Vocês nem tinham comida pra me servir... mas é que Fábio foi resolver umas questões e eu não quis ficar mofando lá em casa... - fala Arlete.
    -Sem problema nenhum, querida. A gente só lamenta não ter comprado mais coisas pra que você pudesse jantar conosco. - fala Maria Susana.
    -Amor... você se importa se eu roubar a minha irmã por um instante até a sala de estar? - pergunta José.
    -De forma alguma, querido. Vá falar com sua irmã que eu fico aqui com Miguel. - fala Maria Susana.
    José e Arlete se dirigem à sala.
    -Já sei até o que cê vai dizer... que é pra eu abrir o olho com o Fábio... essas coisas. Você me diz isso há dez anos, mano.
    -Pois digo quantas vezes for necessário. Será que você não percebe que esse casamento dele não vai acabar nunca?
    -Não, José. Dessa vez é completamente diferente. Fábio vai separar da Elisabete. Ele garantiu isso.
    -Arlete, quantas vezes a gente já teve essa conversa e você me disse exatamente isso?
    -Perdi a conta.
    -Agora você entende meu ponto?
    -Zé... você não entende. Não convive com o Fábio como eu convivo. Não sabe o que se passa no coração dele.
    -Muito menos você sabe, minha irmã... muito menos você.
    -Eu sei que dessa vez é pra valer. Confia em mim, mano... ele foi entregar agora a papelada do divórcio pra ela. Dessa vez é real.
    -Como da outra vez que ele inventou que ela rasgou os papeis... sei.
    -José, você sempre tem essa má vontade com o Fábio... mas ele já tentou se separar antes.
    -E quem garante que ele vai conseguir agora? Quem garante que ele não tá só ganhando tempo mais uma vez pra continuar te enrolando, como faz esses anos todos?
    -Ele nunca quis me enrolar, Zé... você que entende as coisas desse jeito.
    -Já vi que não vai adiantar mesmo te alertar. Você está completamente cega.
    -Você precisa aprender a ser mais generoso e a confiar mais nas pessoas, meu irmão. Você sabe que não é sobre o Fábio que eu tou falando. Tem a ver com a sua vida, com a sua família.
    -Esse não é o assunto...
    -Que seja. Confia no Fábio. Ele vai se casar comigo. E eu vou ser a mulher dele, nem que seja a última coisa que eu faça nessa vida.
    CORTA A CENA.

    CENA 4: Instantes depois, Maria Susana termina de organizar a sala e vê José brincando com Miguel, filho deles. Sem se fazer notada num primeiro momento, observa os dois brincando.
    -Pai... por que você e a mãe são tão claros e eu não?
    -Ah, Miguel... papai do céu deve ter esquecido de colocar tinta na gente. Vamos continuar a brincadeira? Você pega esse controle e esconde num lugar enquanto conto até vinte. Até vinte, viu, filho?
    -Não vale abrir os olhos antes de eu acabar, viu pai?
    -Tá certo. Um, dois, três e... já! Tou fechando os olhos, hein?
    Miguel se apressa para esconder o controle enquanto José conta até vinte.
    -Vinte! Vou abrir os olhos, hein?
    -Duvido você achar o meu esconderijo ultra secreto!
    José procura por uns instantes e encontra o controle atrás de uma almofada no sofá.
    -Peguei!
    -Ah não... assim não vale. Cê tava olhando, pai?
    -Juro que não, Miguel! Você que precisa treinar pra esconder melhor.
    -Assim não tem graça. Você sempre acha...
    -Bobo. Tá precisando de uma lição!
    -Ah, não!
    José faz cócegas no filho e os dois se divertem. José afaga os cabelos de Miguel e Maria Susana percebe o olhar de desconfiança que José lança sobre o filho. Maria Susana se sente desconfortável e sufocada pelo que percebe, indo ao seu quarto.
    -Meu Deus do céu! Quando que o José vai parar de olhar pro nosso filho com essa cara de quem nunca acredita de verdade que isso é possível?
    Maria Susana chora silenciosamente. CORTA A CENA.

    CENA 5: William e Valéria chegam atrasados ao jantar preparado por Flavinho e Leonardo.
    -Demoraram pra caramba, cês dois! Tavam até agora andando pela rua? Olha que BH pode não ser um Rio de Janeiro, mas já são quase meia noite, gente! - fala Leonardo.
    -Desculpem, meninos. William acabou se atrapalhando com umas coisas... - justifica Valéria.
    -Mas o importante é que a gente chegou. E aí... vamos ou não vamos comemorar o motivo desse jantar? Atrasados ou não, a gente chegou pra celebrar esse amor lindo de vocês! - fala William.
    -Sentem-se, por favor. A gente ficou esperando ocês até agora pra poder comer. - fala Flavinho.
    Todos se sentam à mesa. William elogia a comida.
    -Gente do céu, que comida é essa? Não como algo tão bom assim desde a época que minha mãe era viva! Quem é que fez? - questiona William.
    -Fui eu, cês acreditam? O Flavinho ficou só acompanhando pra ver se eu não ia errar tudo. Acertei no tempero? - fala Leonardo.
    -Acertou em tudo, Leo. Menino, se eu não soubesse que ocê não costuma cozinhar, ia dizer que você nasceu pra isso! - fala Valéria.
    -E eles não estão exagerando não, viu? Quem diria que eu ia ganhar uma concorrência brava dentro de casa, hein? - fala Flavinho.
    -Sabe, rapazes... essa coisa de vocês decidirem oficializar o casamento... me deixou inspirado. Fiquei com uma vontade danada de casar com a Valéria... - divaga William.
    -Ih, nem me olha com essa cara. Faz meses que a gente tá junto, só! Onde já se viu um troço desses, gente? É cedo pra pensar nisso... eu te amo, a gente se dá bem, mas... acho que a gente pode deixar pra falar nisso daqui um ano, no mínimo... - fala Valéria.
    -Eu tenho certeza que a gente vai acabar casando... - fala William, olhando apaixonado para Valéria.
    -Ô, gente... tá lindo demais esse romance todo, mas a comida vai esfriar. - brinca Flavinho.
    Todos seguem na refeição, conversando animadamente. CORTA A CENA.

    CENA 6: Daniella passa em casa antes de fechar a clínica e Sérgio se espanta.
    -Minha filha, o que cê tá fazendo aqui numa hora dessas? Aposto que deixou a clínica aberta. A sua irmã vai acabar tendo que pagar hora extra pro Gustavo e pra todos. - fala Sérgio.
    -Pai, mãe... eu preciso falar uma coisa séria com vocês. Eu assumi a clínica por pelo menos dois meses. - fala Daniella.
    -Como é que é? - espanta-se Nicole.
    -Mãe... foi a Cristina que me passou o comando. Pai... o Vitório voltou. E a Cristina foi com ele, fugida. Não vai mais haver casamento dela com o Hugo. - fala Daniella.
    Nicole cai sentada no sofá, perplexa. Sérgio fica sem palavras.
    -Falem alguma coisa, gente! Pelo amor de Deus, eu acabo de falar algo sério e vocês ficam mudos? - impacienta-se Daniella.
    -Daniella... como foi isso? Quando que esse pilantra voltou? Onde eles estão? Ela foi sem levar as coisas dela, meu Deus... - preocupa-se Nicole.
    -Faz poucos dias que ele voltou. Não sei ao certo. Cristina decidiu ir com ele. Eles vão voltar logo, em uns dois meses, eu acredito. Vão esperar a poeira baixar. Desculpa, gente... eu não podia ficar contra minha irmã. - fala Daniella.
    -Que irmã? Eu só tenho uma filha. - afirma Sérgio.
    -O que é isso, pai? Vai negar agora que a Cris é sua filha também? - espanta-se Daniella.
    -Seu pai deve estar mais chocado que eu e você, filha. Isso vai passar. - contemporiza Nicole.
    -Não vai passar. Eu não tenho mais duas filhas. Eu só tenho você, Daniella. - afirma Sérgio, firme.
    -Epa, epa, epa! Eu não vou permitir isso, Sérgio! Você só tem filhas quando elas fazem o que você quer? Quando elas não te decepcionam? Que espécie de pai é você? Um machista tardio? Ou será que sempre foi? - indigna-se Nicole.
    -A mãe tem razão, pai. Que loucura é essa? A Cristina não foi sempre o seu orgulho? Você fez a clínica pra ela! Investiu muito mais nela do que em mim! E agora ela não é mais sua filha? Porque não atendeu às exigências dos padrões dessa sociedade que só julga? Desse jeito cê vai ficar é sozinho, pai. Nenhuma mulher é propriedade de ninguém, você deveria saber. - fala Daniella, firme.
    -Deixa, filha. A poeira vai baixar. Nós vamos ficar bem, na medida do possível. Seu pai vai entender que não pode mandar nas pessoas nem no coração delas. Minha preocupação é como a Bernadete e o Leopoldo vão reagir diante disso. E o Hugo? Pobrezinho dele... - divaga Nicole.
    -Poxa vida, mãe! E alguém aqui tava pensando no que a Cris realmente queria? Eu vou indo agora, ainda tenho que fechar a clínica. Mas pensem bem: o que importa mais, afinal? A felicidade ou viver para atender as expectativas que colocam sobre a gente?
    Daniella vai embora. CORTA A CENA.

    CENA 7: Hugo decide contar a Leopoldo e Bernadete o motivo da visita de Daniella.
    -Mãe, pai... preciso ter um papo sério com vocês. Sobre o motivo da Dani ter vindo aqui. - fala Hugo.
    -Fala, filho... de repente eu fiquei preocupada... - fala Bernadete.
    -A Cristina fugiu. Foi pra longe, pra algum lugar fora daqui. Ela foi com o Vitório, o cara que tinha deixado ela há quase três anos. Ele voltou pro Brasil... e ela fugiu. Não vai mais ter casamento meu com ela. - afirma Hugo.
    Bernadete começa a chorar.
    -Ela não podia ter feito isso com a gente. Logo a filha da Nicole, minha amiga tão querida! Que dor, meu Deus, que dor!
    -Essa moleca tem noção do prejuízo que causou a todos nós? Bem se vê que esse amor do passado dela começou na adolescência. Pelo visto ela não saiu dali. - fala Leopoldo.
    -Fique com o seu julgamento pra si, pai. Falei a vocês o que tinha de dizer. Agora vou subir, porque estou exausto e destruído por dentro. - fala Hugo, subindo as escadas.
    Bernadete de repente para de chorar e sorri com esperança. Leopoldo estranha.
    -Que isso, querida? De repente sua expressão mudou, parece que bateu uma onda de esperança no ar...
    -Claro que veio essa onda. Como não pensei nisso antes, Leopoldo? Agora nossas esperanças se voltam pro Leonardo!
    -Como é que é? Bernadete, do que exatamente cê tá falando?
    -Leozinho não me disse quando me ligou, mas eu tenho certeza que aquela menina, acho que é Valéria o nome, é namorada dele. E eles moram juntos lá em Belo Horizonte, Leopoldo! Vivem praticamente uma vida de casados! Já pensou que eles podem se casar a qualquer momento?
    -Meu amor... como você consegue pensar nisso tudo se nem sabe se a menina é namorada do nosso filho?
    -Eu sei que é. Intuição de mãe. Você vai ver como logo eles se casam e vamos ter nossos netos...
    -Vá dormir, Bernadete. Você deve estar ainda sob o choque da fuga da Cristina...
    CORTA A CENA.

    CENA 8: Hugo chama Giovanna para uma conversa por vídeo e resolve lhe contar o que aconteceu.
    -Então foi isso, Giovanna. A Cristina simplesmente fugiu. Com o amor da vida dela, que nunca foi nem vai ser eu.
    -É uma cretina, isso sim! Com aquela cara de mulher generosa... deixou todo mundo chupando dedo.
    -Você veja bem como fala dela, Giovanna. Não te dei essa liberdade.
    -Querido, deixa eu desenhar um negócio aqui: eu tenho a liberdade que eu quiser. Você sabe muito bem o motivo.
    -E o que você vai fazer? Descobrir o paradeiro dela e arrancar a Cristina pelos cabelos de lá, Giovanna? Aqui, nenhum de nós pode fazer nada. Resta aceitar.
    -Você não era derrotista desse jeito anos atrás, Hugo. O que te deu? Virou bunda mole depois da Cretina, digo... Cristina?
    -Não fala dela desse jeito! Quem é você pra falar dela assim?
    -E quem é você pra defender ela? O corno abandonado. Me escuta bem, Hugo: se não fosse por mim, provavelmente vocês sequer teriam começado um namoro.
    -Me poupe, Giovanna. O máximo que você fez foi dar uns conselhos pra Cris. Nada além disso.
    -E você acha que sem meus conselhos ela se entregaria a você? O que você entende de mulher?
    -E o que você entende, me explica?
    -Meu querido, eu sou mulher. Entendo o que as mulheres querem. Só não estou disposta a comungar com elas dessas mesmas vontades.
    -Você é definitivamente um caso a ser estudado, Giovanna.
    -Posso saber por que? Ora essa, Hugo: você sabe desde que a gente se conheceu que eu não nasci pra essas convenções, não nasci pra me prender a macho e depender de um pra tocar minha vida.
    -Quem não te conhece, que te compre. Você não percebe mesmo as suas contradições.
    -Qual é a contradição nisso? Eu sou livre. Azar de quem não é. O que você queria que eu dissesse?
    -Não era preciso dizer nada, Giovanna. Um pouco de tato e empatia já fariam toda a diferença.
    -Ai, tá sofrendo? Pobrezinho. E o que eu tenho a ver com isso?
    -Pensei que éramos amigos.
    -Somos. Mas antes disso, somos sócios. E é como sócia que eu te digo uma única coisa: bola pra frente.
    -Você tem a dimensão do quanto eu tou sofrendo? E do quanto tive medo que você ficasse furiosa?
    -Por enquanto eu não tenho motivo pra ficar nervosa ou furiosa. Sempre pinta alguém pra topar esse jogo.
    -Só que as pessoas não são peças de um tabuleiro, Giovanna.
    -Você tá insuportável. E abatido, ainda por cima. Vai dormir e se não quiser vir pra agência amanhã, é um favor que você me faz. Só volte quando estiver menos insuportável. Tchau.
    Giovanna encerra a chamada. CORTA A CENA.

    CENA 9: Cristina se oferece para lavar a louça dela e de Vitório após o jantar.
    -Deixa comigo, querido. A louça do jantar é minha e a do almoço é sua, combinado?
    -Tem como te contrariar? É você quem manda.
    -Eu que mando e a louça agradece, né! Além de você não limpar direito, faz um barulho absurdo, equivalente a uma hecatombe nuclear...
    -Sempre exagerada. Vai lá que eu fico por perto.
    Cristina lava a louça enquanto Vitório conversa com ela.
    -Sabe o que eu pensei? A gente podia se mudar pra cá daqui alguns anos. Depois que você arranjasse alguém pra te substituir definitivamente na clínica.
    -Cê acha? Sei não. Adoro esse lugar, mas precisamos ser realistas. Dificilmente esse dia vai chegar tão cedo.
    -Mas ainda vai, não vai?
    -Acho que sim.
    Cristina termina de lavar a louça e, ao se voltar para Vitório, não consegue enxergá-lo, encostando-se sobre a mesa da cozinha.
    -O que foi, amor? Deu tontura? Será que foi alguma coisa que eu preparei errado na comida?
    -Não... Vitório... eu não consegui te ver.
    -Como é que é?
    -Ficou tudo turvo. Sem foco. Agora eu tou conseguindo te enxergar direito de novo, mas foi assustador!
    -Deve ser algo relacionado ao estresse. Afinal, uma fuga gera um estresse...
    CORTA A CENA.

    CENA 10: Daniella fecha a clínica e organiza todas as coisas.
    -Deus do céu... onde que eu tava com a cabeça de aceitar isso por dois meses? Não sei se vou dar conta... - murmura consigo mesma.
    Ao fechar a porta, escuta o grito de Gustavo.
    -Segura a porta! Eu fui pegar um último cafézinho antes de ir embora!
    Daniella esbarra com sua bolsa sem querer em Gustavo, que acaba derramando café no seu jaleco.
    -Droga! Desculpe, rapaz... Gustavo, o seu nome, não é?
    -Isso mesmo. Tá tudo certo.
    -Eu te devo um pedido de desculpas....
    Gustavo olha encantado para Daniella, que sente atração por ele. FIM DO CAPÍTULO 5.

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