terça-feira, 22 de novembro de 2016

CAPÍTULO 8

CENA 1: Vitório se preocupa com reação de Cristina.
-Amor... você ficou chocada, eu sei. Mas eu te juro que não fiz por mal. Eu precisava ganhar tempo.
-Precisava mentir desse jeito?
-Não menti, Cristina. Omiti. São coisas diferentes.
-Não sei o que pensar, Vitório. De repente eu fico pensando em tudo e incerta sobre as coisas. Você planejou tudo com muita antecedência.
-Acredite: não foi assim. Na verdade eu precisava desse tempo. Pra tomar coragem. Pra me livrar do arrependimento por ter te deixado uma vez.
-Eu sei que você tá falando a verdade. Só que a partir de agora eu não quero mais nenhum segredo entre nós. Nenhum, tá me ouvindo?
-Claro, minha querida. Não tenho motivo pra esconder nada, de verdade.
-Fico mais tranquila assim. Não quero também bancar a chata que depois de velha começa a cobrar.
-Você fala como se a gente tivesse chegado à velhice. É engraçado.
-Ah, cê me entendeu, vai...
-Amor... eu sei que a gente precisava esclarecer isso. Mas a gente precisa agilizar as coisas. Só voltamos pro Rio por causa da sua saúde, lembra?
-Nem fala. Tou me borrando de medo disso, de verdade.
-Cristina... presta atenção: com ou sem medo, a gente precisa ver isso.
-Tenho medo de descobrir o que realmente tá acontecendo comigo, Vitório. Um medo que nem sei explicar direito de onde vem. Ou até sei, só que tou preferindo não pensar muito nisso.
-Pensando ou não, a gente precisa tirar essa dúvida. Você tem vinte e nove ou nove anos? Ignorar não vai ajudar em nada.
-Sabe aquele velho ditado que diz “casa de ferreiro, espeto de pau”? É por aí: eu sou médica pediatra, mas eu mesma, Cristina Blanco, morro de medo de médico.
-Pois vai ter que engolir esse medo. Enfrentá-lo. Cadê a Cris valente por quem eu me apaixonei há quinze anos?
-Eu preciso ainda de um tempo pra pensar... pra aceitar o fato que preciso mesmo fazer um monte de exames.
-Quanto tempo, Cristina? Com saúde não se brinca.
-Não sei, amor. Tenta me entender, vai! Até outro dia a gente tava revivendo o que a gente deixou suspenso por quase três anos e de repente me vejo diante da possibilidade de ficar cega.
-Quem tá dizendo isso é você. Vai que não é nada demais? A gente só vai saber disso quando você topar fazer os exames.
-Eu sei disso.
-Então pra que protelar?
-Preciso de coragem.
-Você sempre teve.
-Sim, eu sempre tive. Senão nem teria fugido com você. Só que as coisas mudam quando se trata de algo mais sério que tudo isso. Preciso de tempo pra pensar. Preciso de tempo pra aceitar que não tenho outra saída.
-Quanto tempo?
-Não sei. Mas preciso dele.
Os dois se abraçam. CORTA A CENA.

CENA 2: Gustavo está chegando em frente ao prédio onde mora quando se depara com Patrícia parada na frente do edifício.
-Não pode ser! Como é que essa maluca da Patrícia me achou? Quem é que deu o endereço? Ah... se foi a Valéria, essa garota vai me ouvir, se vai! - esbraveja Gustavo.
Patrícia segue esperando pela chegada de Gustavo, que se desespera, mas busca manter a calma.
-Pensa, Gustavo... não é hora pra entrar em pânico. Tem que haver um jeito de entrar no prédio sem ser visto por essa maluca. Tem que haver!
Gustavo observa quando uma van chega, para entregar revistas aos assinantes do prédio. Gustavo decide abordar o motorista da van.
-Oi... moço, não sou assaltante, fica preocupado não. Moro nesse prédio e sou assinante da revista inclusive. Tá vendo aquela moça ali do outro lado, na entrada do edifício? - fala Gustavo.
-Sim. Essa moça tá te seguindo?
-Você entendeu certo, rapaz. Só que ela não pode me ver entrando. É uma ex namorada minha lá de BH. Nunca aceitou o fim do nosso relacionamento e fica me perseguindo.
-Entendi. Você quer entrar na van pra não ser visto por ela. Só tem um jeito de não chamar a atenção. Tá vendo essa chave que separei aqui no molho? Ela abre a porta lateral. Você pega essa chave e entra na van sem ser visto. Só toma cuidado pra não estragar as revistas.
-Fechado. É isso mesmo que vou fazer. Obrigado pela força. Como você se chama?
-Ezequiel. Vamos, entra logo rapaz! Depois você vê o que faz.
Gustavo entra na van e Ezequiel entra no prédio para entregar as revistas aos assinantes. Gustavo desce da van olhando para os lados.
-Obrigado, Ezequiel. Você salvou minha pele.
-Não me custava nada ajudar. Mas você não vai poder se esconder sempre.
-Deixa o resto comigo. Sei exatamente o que fazer.
-Boa sorte, rapaz.
Ezequiel sobe com exemplares da revista e Gustavo procura o porteiro do prédio, se certificando que Patrícia não o viu.
-Boa noite, seu Geraldo. Preciso falar com você.
-Você parece assustado, Gustavo. Nem vi você entrar aqui.
-Eu tive que me esconder.
-Que? Você mora aqui, qual o sentido disso?
-Seu Geraldo... olha lá pra fora. Tá vendo aquela mulher parada ali na frente do prédio?
-Sim. Ela tá aqui de campana desde o final da tarde. Já pediu pra não ser incomodada e não tenho como chamar a polícia porque ela não tá fazendo nada de errado.
-Ela é Patrícia. Minha ex namorada lá de BH. Ela não pode me ver aqui. Não pode nem saber que estou aqui.
-E o que você quer que eu diga?
-Que você não sabe de nenhum Gustavo Varela morando aqui.
-Essa garota é perigosa? Eu devia chamar a polícia.
-Não chame, seu Geraldo. O problema dela é comigo. Ela nunca aceitou o fim do nosso namoro. Me persegue como pode há mais de 3 anos.
-Você não pode se esconder pra sempre.
-Por favor... diga que não conhece nenhum Gustavo Varela. Depois vejo o que faço.
CORTA A CENA.

CENA 3: Guilherme faz um lanche antes de dormir enquanto sua mãe vê TV e seu pai dorme.
-Sabe, mãe... às vezes eu acho esquisito o jeito que o pai olha pra mim. Até mesmo o jeito que ele me trata às vezes...
-Besteira, Guilherme. Seu pai apenas é um homem cheio de convicções.
-E eu sei o que essas convicções significam.
-Do que cê tá falando, filho?
-Não tente subestimar minha inteligência, mãe... o pai sempre foi um cara conservador. Lembro disso desde muito pequeno. É isso que me causa estranheza.
-Estranheza do que, meu filho? Você deveria agradecer por um homem conservador como seu pai aceitar quem você é numa boa.
-Será que ele aceita, mãe? Ah, Dona Armênia... duvido muito que seja assim. De que adianta se calar e manter esse olhar estranho, essa agressividade passiva.
-Guilherme, meu querido... seu pai pertence a outro tempo.
-E o que é que tem? Tem gente mais velha que ele que nunca foi retrógrada.
-Só que seu pai tem dificuldades de entender a bissexualidade. Só isso. Ele deve pensar que você precisa se decidir.
-Tá vendo? Já começamos a falar algumas verdades.
-Nada disso é novidade.
-Será que não, mãe? A sensação que eu tenho é que você me protege.
-Que bobeira, filho. Qual mãe não protege os filhos?
-Não dessa maneira. Mas sim querendo me poupar do que o pai realmente pensa de mim. Me poupando do que ele diz quando não estou por perto.
-Tire isso da cabeça, Guilherme. Isso não é verdade. Humberto pode ser um homem endurecido e de difícil trato, sim... mas é seu pai. E te ama mais que tudo! Acha mesmo que eu permaneceria casada com um sujeito que não fosse bom?
-Isso é verdade...
-Então, querido! Larga de se preocupar. Vai descansar, dormir tranquilo, sem ficar pensando besteira...
CORTA A CENA.

CENA 4: Valéria resolve desabafar com Flavinho e Leonardo antes de dormirem.
-Ai gente... eu ando realmente preocupada. - fala Valéria.
-Precisa se preocupar tanto? Se for uma gravidez, o que é que tem? Você não é mais nenhuma garotinha... - pondera Leonardo.
-Posso não ser uma garotinha, mas estou longe de ser uma mulher independente e madura o suficiente pra segurar esse tranco. Depois, um filho passa longe do que eu planejei nesse momento pra minha vida. - fala Valéria.
-Mas e se tiver essa criança, o que você vai fazer? - pergunta Flavinho.
-Tirar eu não vou. É estranho tudo isso... só de pensar que uma vida pode estar se formando dentro de mim eu já sinto amor. Mas não sei o que fazer. Nem como lidar com isso. Isso sem falar que vai ser uma barra imensa pro William segurar. De onde que a gente ia tirar grana pra conseguir dar conta de tudo? Um filho custa dinheiro demais, gente...
-Você já tomou a sua decisão, Valéria. - afirma Leonardo.
-Mas vamos pensar positivo, né? Talvez eu nem esteja grávida e tudo isso seja um alarme falso... - fala Valéria.
-Duvido muito. Você tá diferente, querida... - observa Flavinho.
-Bem... daí eu realmente não sei o que fazer.
Flavinho e Leonardo confortam Valéria. CORTA A CENA.

CENA 5: Na manhã do dia seguinte, Nicole conversa com Sérgio sobre Cristina.
-A gente precisa falar sobre nossa filha.
-O que tem a Daniella?
-Sérgio, chega dessa palhaçada! Nós temos duas filhas e é da Cristina que eu quero falar!
-Tá. Não posso fazer nada, né... ela também é nossa filha, apesar de ter nos decepcionado do jeito que fez.
-Se você conseguisse olhar pelos olhos dela. Ou se pelo menos tentasse... mas não. Prefere julgar. Que tipo de pai é você?
-E que tipo de mãe é você, me diz? Como é que você simplesmente perdoa o que ela fez?
-Não se trata de perdoar, Sérgio. Cristina é uma mulher madura. Antes de ser nossa filha, ela é um ser humano, que tem vontades e desejos próprios.
-Engraçado que ela não pensou nas consequências de nada do que fez quando simplesmente largou tudo.
-Tudo nessa vida tem consequências. Eu e você sabemos muito bem disso. Afinal de contas, o que teria sido de nós se não tivéssemos nos apoiado na juventude?
-O que uma coisa tem a ver com a outra? A Cristina não pensou em nenhum momento que isso pode acabar pra sempre com nossa amizade com Leopoldo e Bernadete.
-Francamente, Sérgio... então sua preocupação é só essa? Com o que vão pensar? Eles são nossos amigos de uma vida inteira, devem entender. Se a Bernadete ou o Leopoldo não entenderem, problema é deles. Não sou responsável por isso, muito menos você.
-Fácil lavar as mãos desse jeito.
-Não se trata de lavar as mãos, criatura! Só que você se preocupar com a nossa reputação diante dos nossos amigos revela muito sobre os motivos reais de você ter ficado bravo com toda essa situação.
-Vou dar uma volta. Impossível conversar com você me julgando desse jeito.
-Você começou julgando. Vai, vai passear. Vai e aproveita pra refletir sobre o que tem pensado e dito.
CORTA A CENA.

CENA 6: Cristina mal consegue comer e Vitório se preocupa.
-Anda, amor... pelo menos uma torrada você precisa comer.
-Não desce, Vitório. Não consigo parar de pensar no que anda me acontecendo.
-Será que vale ficar nessa angústia?
-Não queria, amor... mas essa angústia bate, se instala e não sai. Mal dormi essa noite.
-Acho que é momento de você tomar coragem e ir ao médico.
-Sabe de uma coisa? Você tem razão. Não posso ficar mais tempo nessa dúvida, nessa aflição toda...
-Vamos agora?
-Agora? Não dá pra esperar eu me arrumar?
-Boba. Claro que eu espero! Mas é bom se apressar.
-Dá medo de pensar o que pode dar esses exames... de verdade.
-Eu vou com você. Vai dar tudo certo.
-Tenho tanto medo de saber o que é... e se for alguma coisa sem cura?
-Pensa positivo, meu amor...
-É o que mais tenho tentado fazer... só que não é fácil.
-Ninguém disse que é fácil.
-Tá certo... vou me arrumar pra gente ir de uma vez ao médico.
-Confia... tudo vai se esclarecer.
CORTA A CENA.

CENA 7: Hugo vai buscar Giovanna no apartamento dela, antes do trabalho.
-Que surpresa é essa, Hugo? Me buscando? Gente...
-Precisamos conversar, Giovanna. Tenho uma solução pro nosso impasse.
-Qual seria?
-Você casar comigo.
Giovanna gargalha.
-Ai, você é ótimo! Sabe quando que eu vou casar nessa vida? Nunca! Não nasci pra isso. Nasci pra ser a outra. Você sabe muito bem disso.
-Mas já se passou tanto tempo! Você está perto dos 40... pode se arrepender.
-E daí? Nem toda mulher deseja família e filhos. Supere. Desde que nos conhecemos é assim. Sempre joguei limpo com você. Não fui desonesta em momento nenhum.
-Pelo menos, comigo não...
-Você concordou com tudo isso. Depois, sem mim, você jamais teria chegado onde chegou.
-Não precisava jogar na cara... vamos abrir a agência, é o que nos resta.
-Não se faça de coitadinho, Hugo. Eu te dei uma carreira, um futuro, tantas oportunidades! Eu praticamente fiz de você o homem que você é hoje. Mas não peça de mim nada além disso. Essa ideia de se casar comigo é absurda. Cortaria todo o encanto que existe entre nós.
-Tá... tá certo. Não falo mais nisso.
-Não fale nem de brincadeira. Isso não tem o mínimo cabimento.
-Vamos?
-Sim, vamos.
CORTA A CENA.

CENA 8: Flavinho conversa com Leonardo, abrindo uma sacola.
-Tá vendo isso aqui? É o exame de farmácia. Comprei pra Valéria fazer. Sei que ela pode ficar brava, mas... - fala Flavinho.
-Você fez a coisa certa, amor. Melhor acabar com essa dúvida de uma vez. Se ela ficar brava, a gente vê como se vira... - fala Leonardo.
Valéria chega e escuta conversa entre eles.
-Vocês não tinham esse direito. Eu realmente fiquei brava. Eu ia comprar o exame. - reclama Valéria.
-Quando, depois de amanhã? Semana que vem? Valéria, é melhor assim... - contemporiza Leonardo.
-Mas gente... se coloquem no meu lugar! Eu tou apavorada! - justifica Valéria.
-Sim... mas esse pavor vai responder alguma coisa? Não vai! Enquanto isso você faz o que? Cozinha o William em banho maria deixando ele inseguro sem saber porque você anda esquisita? Me poupe, se poupe, nos poupe! - fala Flavinho.
-Vocês sabem me convencer mesmo, hein? Tá certo, eu faço esse exame aqui... - conforma-se Valéria.
-A gente quer seu bem. Você precisa colaborar... - contemporiza Leonardo.
CORTA A CENA.

CENA 9: Gustavo toma café da manhã com Daniella numa lanchonete.
-Estranhei você não me chamar no seu apartamento. Mas a comida daqui é boa...
-Daniella... preciso de um favorzão seu. Não posso mais ficar no prédio que moro. Cê sabe de algum apartamento pra alugar pelas redondezas da clínica?
-Claro que sei. Mas você parece apressado, Gustavo.
-Não pareço, estou. Não posso te dar muitos detalhes agora... outra hora te explico melhor.
-Nossa... eu vou te ajudar. Ainda hoje vejo apartamentos pra te indicar.
-Muito obrigado... de verdade.
-Não entendo a razão dessa mudança repentina. Dessa necessidade de sair dali. Você parece fugir de alguma coisa.
-Não estou fugindo da polícia, se é isso que cê tá pensando...
-Bobo! Nem passou pela minha cabeça uma coisa dessas... mas convenhamos que essa sua urgência é de se estranhar.
-Um dia eu vou te explicar tudo, com calma. Só não te digo agora porque sinto que não posso. E também porque quero me certificar que você não me julgaria.
-Não tenho razão pra te julgar. A menos que você dê motivos pra eu te julgar.
-Acredite... nem tudo é o que parece ser. Você vai me ajudar?
-Claro que vou! Mas ainda vamos precisar conversar.
-Outra hora. Preciso desse apartamento até amanhã...
-Nossa...
-É uma questão de segurança. Não posso dizer mais que isso agora, desculpa...
Daniella estranha pressa de Gustavo. CORTA A CENA.

CENA 10: Valéria olha para o exame de gravidez perplexa. Flavinho a consola.
-É, minha amiga... deu positivo.
-Não posso estar grávida. Não agora!
-Pode ser um falso positivo. A gente pode confirmar amanhã no hospital... fica calma.
-Calma? Impossível. Se essa gravidez for real... e ao que tudo indica, é... meu Deus! Eu tou perdida! E o William, então? De onde que ele vai tirar sustento pra gente? Meu Deus... o que eu faço dessa vida?
-Fica tranquila... tudo vai se resolver.
Flavinho abraça Valéria. CORTA A CENA.

CENA 11: Horas depois, o médico chama Cristina e Vitório à sua sala.
-Já tenho o resultado de todos os exames feitos, Cristina. - afirma o médico.
-E o que eu tenho? - pergunta Cristina.
-Bem... eu tenho uma notícia boa e outra ruim... - fala o médico.
-Detesto esse tipo de suspense. Parece novela do Manoel Carlos... - protesta Vitório.
-Não seja grosseiro, Vitório! Deixa o médico falar! - retruca Cristina.
-Como eu ia dizendo... tenho uma boa e uma má notícia. Qual delas você quer primeiro, Cristina?
-A boa, lógico. Assim suaviza qualquer coisa que vier de ruim depois.
-Tem certeza?
-Tenho, doutor.
-Anda, fala de uma vez! - apressa Vitório
-A boa notícia é que você não corre risco de morrer. A saúde geral vai muito bem. A má notícia é que você tem uma doença degenerativa, chamada degeneração macular relacionada à idade... no seu caso é prematuro. Você pode ficar cega. É um caso raro de prematuridade dessa doença. Eu sinto muito, Cristina. O seu caso é raríssimo, provavelmente hereditário.
Cristina se desespera. FIM DO CAPÍTULO 8.

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