quinta-feira, 17 de novembro de 2016

CAPÍTULO 4

    CENA 1: Cristina permanece sem dizer nenhuma palavra e Vitório a pressiona.
    -E aí, não vai me dizer nada?
    -Como é que você solta uma bomba dessas e espera que eu tenha resposta?
    -Cristina, meu amor... eu vejo no seu olhar, eu sinto na sua respiração que você ainda me ama. Que ainda me deseja. A paixão não morreu.
    -Paixão não é amor. Não se esqueça que é a paixão que move o ódio também. Quer pagar pra ver?
    -Você está enganando a si mesma, Cristina. A sua mente, o seu lado racional, insiste que você deveria me odiar. Mas você não consegue. E sabe disso.
    -Esses três anos te ensinaram a ser pretensioso e prepotente desse jeito? Se enxergue, Vitório. Você não tem a mínima condição de dizer nada sobre mim ou de me pedir nada.
    -Mas me escuta. Só isso que peço.
    -Você tá pedindo isso desde que apareceu mais cedo na minha sala. Pede que eu te escute, mas não explica nada.
    -Eu tive que ficar na Itália. Resolver problemas do meu pai. Ele se meteu em enrascada. Acabei ficando mais tempo do que planejei.
    -E posso saber por que você não me ligou uma única vez? Nem uma chamada de vídeo, nem nada. Você simplesmente não entrou em contato por quase três anos! Como quer que eu acredite na primeira justificativa?
    -O seu coração sabe que não estou mentindo. E sabe que ainda me ama.
    -Digamos que eu sinta ainda alguma coisa por você. Você acha mesmo que eu largaria de casar com Hugo, um cara sério, responsável e respeitador, que pelo menos me garantiria o mínimo de tranquilidade, pra ficar com você? Vitório... por mais que eu te perdoasse, nada vai apagar o estrago que você fez. Não foi só a mim que você decepcionou. Decepcionou minha mãe, meu pai... eles te tinham como um filho. E o que você fez? Jogou tudo isso fora.
    -Eu quero resgatar tudo isso.
    -Posso saber como? Porque sugerindo que eu fuja com você, nós não resolveríamos nada.
    -Você disse nós. Está pensando em vir comigo.
    -Eu não disse isso. Vitório, sai do meu carro, por favor. Estou exausta e preciso dormir.
    -Eu tenho onde te levar. Uma fazenda no interior de São Paulo, que é dos meus pais. A gente pode ir pra lá. Depois a gente vê o que faz. Ninguém nos acharia lá... ganharíamos tempo... pensaríamos numa maneira de preparar o terreno pra quando você voltasse. Esperaríamos a poeira baixar.
    -Vitório... se eu não te conhecesse praticamente a uma vida inteira, eu diria que você tem quinze anos. Isso é completamente descabido. É uma loucura!
    -A vida não teria a mesma graça se não houvesse loucuras.
    -Lindíssima teoria. Pena que a realidade joga na nossa cara todos os dias que a vida não é assim, fácil. Sonhar é bom. Mas delirar é perigoso. Você não pensou e não pensa em quem você machucou. Tá fazendo isso por mim ou por você?
    -Por nós.
    -Sei. Agora vai embora. Eu realmente preciso descansar. Pensar nisso tudo que ouvi.
    -Você vai pensar? Promete que pensa com carinho?
    -Eu disse que vou pensar. Não me diga como devo pensar.
    Vitório deixa o carro e Cristina parte, atordoada. CORTA A CENA.

    CENA 2: Valéria chega em casa depois de Flavinho e Leonardo jantarem.
    -Demorou pra chegar, Valéria. Tava até agora dando volta com o William? - pergunta Flavinho.
    -Sim, gente. Desculpa não avisar que ia chegar depois de vocês. Ficaram preocupados? - pergunta Valéria.
    -Não chegamos a nos preocupar. Deixamos a sua comida separada, não se preocupe. Na verdade, o que me intriga nisso tudo é a atitude do William... - fala Leonardo.
    -De novo isso, Leonardo? E falando na frente da Valéria? Que uó isso, amor... que uó! - protesta Flavinho.
    -Mas o que seria essa atitude do William, Leo? Fiquei pensando agora e não entendi o que pode ser. - fala Valéria.
    -Ele é seu namorado há alguns meses, certo? Então por que ele sempre se esquiva das suas e das nossas perguntas sobre a família dele? Tem alguma coisa esquisita nisso. Ele me parece esquivo demais. - observa Leonardo.
    -Ah, Leozinho... entendo sua preocupação. Mas é o jeito dele... ou você acha que isso tá errado? - questiona Valéria.
    -Não sei pra que esse assunto. William é gente boa. Eu sei, eu sinto. - afirma Flavinho.
    -Nem eu tou dizendo o contrário, gente. Eu gosto dele. Acho o William um cara gente boa, claramente do bem. Mas por que ele evita tanto falar de si ou de qualquer coisa relativa a ele? Será que ele esconde alguma coisa? Ou será que ele tem medo de falar sobre a família? - questiona Leonardo.
    -Me surpreende isso vindo de você, amor. Logo você que tem uma família tão complicada... - observa Flavinho.
    -É, mas vocês não vão brigar por isso, né? - fala Valéria.
    -A gente nunca briga. Só peço que procure conhecer mais o William. Vai ser melhor assim. Sei que ele é seu namorado, que você tá apaixonada. E gosto dele, de verdade. Mas abre o olho... não custa nada. - alerta Leonardo.
    CORTA A CENA.

    CENA 3: Fábio chega em casa, no início da madrugada. Elisabete o espera na sala, tomando um chá.
    -Demorou de novo, amor... muita investigação pra tocar?
    -Elisabete, minha querida. Você e eu não temos segredos há anos. Por que você insiste em não ver o que tá acontecendo? Por que me prende desse jeito e insiste em manter esse casamento?
    -E por que você não sai? Se você realmente não me amasse mais, já teria me deixado.
    -Eu te amo, sim. Só que não do mesmo jeito que você me ama. O amor que sinto por você é um amor amigo, um amor irmão. Você sabe que sempre pode contar comigo.
    -Esse tipo de amor eu não quero. Comigo é tudo ou nada.
    -Será, mesmo? Faz quantos anos que a gente não tem mais nada? De que adianta ser no papel e não ser no viver, me diz?
    -Ainda acredito que possamos voltar a ser um casal outra vez. Tenho fé nisso.
    -Minha querida... use a sua fé para coisas que ainda podem ter salvação. Eu te amo e você sabe disso. Você me deu o meu filho, Maurício é um homem generoso, bondoso, inteligente e consciente. Ele não aprendeu isso só comigo... aprendeu mais com você, tenho certeza disso. Faz mais de dez anos que não temos mais um casamento de verdade, Bete...
    -Você tava com ela, né?
    -Sim, estava. Ela tem nome. Você sabe que ela é a Arlete. Eu quero casar com ela.
    -Precisa me dizer isso desse jeito? Precisa me ferir assim?
    -Não é a primeira vez, mas espero que seja a última. Veja, Bete... não quero brigar. Mas quero ser feliz. E quero que você seja feliz também. Nós não somos mais um casal.
    -Pra mim, você sempre vai ser o amor da minha vida.
    -Um amor só se vive quando é recíproco, quando o desejo parte dos dois. Pra que insistir nisso? Por favor, Elisabete. Eu tou com os papeis do divórcio prontos. Você só precisa concordar.
    -Não! Eu faço qualquer coisa pro nosso casamento não acabar! Eu te imploro, não me deixa!
    -Nosso casamento acabou há mais de dez anos. Só não consumamos esse fim. Eu amo Arlete como nunca amei ninguém. Você acha justo me impedir de viver meu romance? Você diz que me ama, mas que amor é esse que me prende por tantos anos? Que amor é esse que obriga a coitada da Arlete a se submeter a ser a outra por tanto tempo?
    Elisabete chora e Fábio afaga seus cabelos.
    -Tudo bem. Mande os papeis quando puder. Não posso te prender pra sempre.
    -Eu nunca vou te deixar, Bete. Eu prometo. Você merece ser feliz e livre.
    Os dois se abraçam. CORTA A CENA.

    CENA 4: No dia seguinte, Daniella chega apressadamente à clínica e vai à sala de Cristina.
    -Não entendi você me chamar logo cedo aqui. Tá precisando de ajuda aqui de novo, mana?
    -Muito mais do que você possa imaginar, mana. Você talvez precise tomar a frente e o meu lugar aqui na clínica.
    -Como é que é, Cris? Eu que bebo e você que fica chapada? Olha, não sei que coisa que você tomou, mas a alucicrazy aqui hoje é você, não eu...
    -O Vitório esteve aqui ontem, nessa sala. Nós conversamos muito.
    -Que? Mana, cê tá falando sério? Depois de quase três anos esse sujeito surge? E o que isso tem a ver com... Cristina Blanco Oliveira, posso saber o que cê tá tramando?
    -Ele me explicou porque teve de se ausentar.
    -E você acreditou? Ai, mana... me poupe, se poupe, nos poupe.
    -Alguma coisa nele me balançou. Passei a noite toda pensando no que ele me disse. Quase não dormi. Ele tem uma fazenda no interior de São Paulo. Falou que a gente pode fugir pra lá até a poeira baixar. Pensei muito sobre isso e decidi aceitar. Você, melhor que ninguém, sabe que nunca aceitei esse fim.
    -Cristina, você ficou louca? Esse cara sumiu no mundo, não deu notícia por quase três anos! Você tá de casamento marcado pra daqui duas semanas com o Hugo! Você pensou nele? Pensou nos pais dele? Pensou nos nossos pais? Que absurdo, gente!
    -Você me dizendo essas coisas, Daniella? Logo você que nunca se importou com a avaliação que fazem de você? De repente te baixou a moralista? Ou será que você caiu nessa hipocrisia do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço?”. Esperava mais de você, minha irmã.
    -Cris... tenta entender. Não tem a ver com hipocrisia.
    -Como que não, pimentinha? Como que não? Será que você não vê que nem meus sogros nem nossos pais podem viver por mim a minha vida?
    -Você que sabe.
    -Isso é um sim?
    -Um sim pra que, sua louca?
    -Você aceita tocar a clínica enquanto eu estiver longe?
    -Tenho outra alternativa? Contra você que eu não ia ficar. Mas o que você tá prestes a fazer é insano! Vai abandonar o Hugo. Se vingar de uma coisa que o Vitório te fez no passado com um cara legal que não tem nada a ver com isso!
    -Não tem nada com vingança. Só que se eu me preocupar sempre com os outros, o que é que vai restar pra mim? O que é que vai restar de mim? Uma eterna escrava dos desejos e projeções dos outros? Daniella, eu sou sagitariana, você sabe muito bem o que isso significa.
    -Não justifique na astrologia a sua personalidade. Mesmo que isso tenha alguma relação, quem decide o rumo é você.
    -É por isso mesmo que te chamei pra essa conversa.
    -Você já tomou sua decisão, né? Sei que não vai mudar. Mas Cristina, e eu? E os meus sonhos? E a minha vida profissional? Eu posso, quero e vou te ajudar. Mas você sabe que minha vocação passa longe dessa clínica.
    -Não vai levar muito tempo. Se tudo sair como planejado, em dois meses eu volto, com tudo acertado. Possivelmente casada... só que com Vitório.
    -Dois meses. Nem mais, nem menos. Agora, você percebe a sinuca de bico que tá me metendo? No fim vou ser eu a mensageira pra nossa família e pro Hugo. Você não vai estar aqui pra ver a reação deles.
    -É a única maneira, maninha... essa cegueira temporária é importante. Hugo vai superar. Nossos pais também vão.
    -Quando você parte?
    -Hoje mesmo. Antes do fechamento da clínica.
    Daniella fica preocupada. CORTA A CENA.

    CENA 5: Valéria passeia com William pelas ruas de Belo Horizonte, aproveitando seu dia de folga.
    -Nossa, eu ter trocado a loja da dona Melissa pelo salão de beleza é um sonho, mas como cansa trabalhar em pé o tempo todo, nossa senhora!
    -Ah, Valéria... vai falar de trabalho até na folga? A gente podia aproveitar juntos sem lembrar dessas coisas da vida adulta.
    -Só você, William... nunca fui adolescente e parece que tou vivendo uma adolescência tardia com você...
    -Você e seu irmão tiveram que crescer cedo. Falar nisso, quando ele volta pra BH pra eu conhecer meu cunhado?
    -Gustavo é muito ocupado, tadinho. Mal tem tempo de respirar lá no Rio, ele diz.
    -Sabe, Valéria... você não é como as outras meninas que conheci. Olha pra gente pelo que a gente é...
    -Isso é bom, amor? E por que eu não haveria de olhar procê pelo que ocê é?
    -Ah, coisas... tem muita gente nesse mundo que só fica com as outras pra tirar vantagem.
    -Vê se pode um troço desses, amor! Vantagem no que? Nós damos um duro danado nessa vida...
    -Ah... isso é verdade.
    O celular de William e ele percebe se tratar de Mauro, seu pai.
    -Amor... cê me espera aqui sentada que eu vou atender meu telefone logo ali?
    -Precisa ser longe?
    -Precisa. Meu pai tá passando por uns perrengues. Volto logo, amor.
    William atende o telefone.
    -Fala pai... como anda?
    -Preocupado com o que cê anda fazendo da vida. Ainda tá se deixando levar por aquelas aproveitadoras?
    -Ah, seu Mauro... nada a ver. Já sou vacinado contra esse tipo. Olha só, pai... tou morrendo de saudade, mas não posso te dar atenção agora. A gente se fala outra hora, tá? Beijo, meu velho. Te amo.
    William desliga e vai rapidamente a Valéria.
    -O que seu pai queria?
    -Saber como eu ando...
    -E por que precisou atender longe de mim, William? Não entendo isso...
    -Ah, é coisa minha. Vocês nem se conhecem ainda...
    Valéria fica intrigada. CORTA A CENA.

    CENA 6: Arlete encontra Fábio no horário de almoço dele. Os dois almoçam em um luxuoso restaurante.
    -Conversou com a Elisabete, Fábio?
    -Mais uma vez. E mais uma vez ela fez aquele drama, aquele apelo pra que nosso casamento nunca acabe. Foi difícil, como sempre é. Mas sinto pena dela.
    -E de mim, meu amor? Você não sente pena?
    -Arlete... Elisabete é uma mulher frágil. Você sabe perfeitamente disso.
    -E eu tenho de ser forte sempre, o tempo todo? Não posso ter meus medos, minhas inseguranças, minhas vontades e meus caprichos? Por mais independente que eu seja, isso não é tudo sobre mim. Nunca te escondi nada, Fábio.
    -Mas nem eu espero que você mude nada. Você é perfeita do jeito que é. É por essa Arlete que eu me apaixonei. Cheia de vida, de atitude, de paixão em tudo o que faz, em cada ar que respira.
    -Você precisa separar da Elisabete. Vai ser melhor para todos nós. Não quero te pressionar, mas poxa vida! Já são anos e anos nessa lenga lenga! Cansa, sabe?
    -Eu pedi o divórcio mais uma vez. Pela primeira vez a Bete concordou. Triste, inconformada, mas concordou.
    -E o que é que você tá esperando pra entregar esses papeis de uma vez pra ela? Quanto mais cedo isso acontecer, melhor ela vai entender que nunca fui destruidora de lares e nem traí a amizade dela.
    -Eu vou entregar os papeis logo. Sou o maior interessado que ela assine o divórcio.
    -Chegou a hora, Fábio. Não dá mais pra voltar atrás. Não vou me sujeitar a isso a vida inteira, por mais que eu te ame.
    -Essa espera vai acabar. É uma promessa e uma dívida.
    -Espero que dessa vez seja pra valer. Você não pode voltar atrás, mesmo que a Elisabete simule mal estar. Você sabe do que ela é capaz...
    CORTA A CENA.

    CENA 7: Horas mais tarde, já de noite, Fábio vai ao apartamento de Arlete.
    -Eu vim pra ficar com você essa noite, meu amor.
    -Sei. Quero muito. Mas você só fica se me garantir que confirmou tudo com a Elisabete.
    -Você sabe que eu e ela não temos segredos.
    -Não é sobre isso. É pra ela não alimentar a esperança de que o divórcio pode não sair.
    -Fique sossegada. Conversamos outra vez. Dessa vez ela tava de cabeça fria. Entendeu que o divórcio é inevitável. Eu vou entregar a papelada pra ela amanhã mesmo.
    -Sabe de uma coisa? Me preocupa o que vai ser dela depois do divórcio de vocês.
    -Ei... se decide, meu amor. Ou você fica feliz por nós ou se preocupa com ela. Não dá pra ser feliz se a gente sempre se preocupar com todo mundo.
    -Fábio, meu querido... ela era minha amiga antes de tudo. Sei que ela acha que eu traí ela. Se recusa a perceber que tudo saiu do nosso controle. Como é que não vou ficar preocupada?
    -Deixa o tempo curar essas feridas, Arlete... deixa que a vida cuida.
    -Será que cuida? E se não der tempo?
    -Que papo esquisito, amor... melhor deixar isso pra lá. Nós vamos ficar juntos... e logo somos nós a nos casar. Não é o que a gente queria? Tá tão perto de acontecer... vamos esquecer, pelo menos hoje, esses problemas... Elisabete vai sobreviver.
    Os dois se beijam, apaixonadamente. CORTA A CENA.

    CENA 8: Daniella assume a sala de Cristina na clínica. Cristina chega com Vitório à fazenda no interior de São Paulo.
    -Que lugar maravilhoso, Vitório! Se você tivesse me levado aqui antes, eu teria decidido imediatamente fugir com você, ontem mesmo!
    -Não te falei que valeria a pena? Nós temos tudo o que precisamos por aqui, pelos próximos dois meses.
    -Vai ser duro, meu amor. Muito complicado não pensar em tudo o que deixei pra trás.
    -Então nós somos dois. Deixei você pra trás antes... e agora deixei a vida que construí na Itália pra trás também. Por amor... por você. Pelo nosso amor.
    -Sei que não devia, que isso é um absurdo. Mas nunca te esqueci. Você foi meu primeiro amor e é meu único grande amor. Cedo ou tarde, todos vão precisar compreender isso. Espero que não leve muito tempo...
    -Claro que vão entender. Tudo o que é feito por amor está acima do bem e do mal, acima dessas convenções, acima de qualquer barreira. Eu te amo mais que tudo nessa vida, Cris...
    -Ah, Vitório... o que você me faz sentir, homem nenhum nesse mundo jamais vai ser capaz de me fazer sentir. Eu precisava dessa sensação... desse desejo. Eu precisava de você.
    -Promete que fica pra sempre comigo?
    -Só se você nunca mais sumir. Promete?
    -Isso é fácil. Só sumo de novo se você mandar.
    -Ouvi direito? Você está me dando plenos poderes? Olha que eu não posso nem ouvir falar em poder que fico toda ouriçada, rapaz...
    -Você manda. Manda no meu coração, na minha vida. Manda em tudo. Não posso te colocar em outra posição senão a da líder dessa relação, desse nosso amor. Você veio porque quis. Nada disso seria possível se não fosse a sua decisão. E eu te admiro mais ainda por isso...
    -Ai, Vitório... você já era apaixonante antes. Agora se tornou a coisa mais linda desse mundo. Como não vou amar você, me diz? Impossível não te amar. E que se dane a lógica.
    -Fico tão feliz por te ouvir dizer isso, meu amor... pensei que você jamais me perdoaria, Cristina.
    -Eu não devia. Mas meu coração pede o contrário.
    -Os corações são mais sábios que a razão.
    -Não sei se são, Vitório... mas não podia deixar de estar aqui, com você. Só que fico triste, pensando em toda dor que causei. Na dor que estou causando. Não é justo com Hugo, ele é um homem bom. Não é justo com meus pais, que sempre fizeram tudo e mais um pouco por mim. Não é justo nem com a coitada da Daniella, que tem um futuro lindo de atriz e dançarina pela frente... se vendo obrigada a tapar o buraco que deixei na clínica enquanto estou aqui, fugida com você.
    -Meu amor... você sabia de tudo isso. Tem sentido sofrer por isso agora?
    -Não é bem um sofrimento. É uma ponta de arrependimento por tudo. Não por estar aqui com você... mas por ter feito escolhas precipitadas... que vão afetar a vida do Hugo, por exemplo. Talvez de uma maneira definitiva.
    -Mas você nem o ama de verdade. No fundo ele deve saber disso.
    -Deve saber. Mas ele sempre me amou. Namoramos por mais de dois anos. Ele contava com o casamento. Esperou que eu fosse amá-lo com o tempo...
    -Só que isso não aconteceu... agora só nos resta paciência. As coisas vão cada uma pro seu lugar...
    CORTA A CENA.

    CENA 9: Ao se prepararem para jantar, Flavinho resolve conversar sobre casamento com Leonardo.
    -Sabe, amor... a gente já vive vida de casado desde que começou esse namoro. Precisamos mesmo nos casar? Não vai mudar nada, sabe?
    -Flavinho, meu querido... eu estou fazendo isso por você. Não se esqueça que, apesar de eu estar longe do Rio há tempos, minha família tem posses. Tenho um bom dinheiro. Sei que você não levou isso em conta quando se apaixonou por mim, mas acho prudente e justo garantir que você tenha seus direitos.
    -Mas pra que? Se você sabe que não estou com você por interesse, qual é o sentido disso?
    -Amor... nós nunca sabemos como vai ser o dia de amanhã, se vamos ainda estar vivos, se vamos viver até os quarenta ou até os cem anos, nem quem vai primeiro.
    -Sei. Mas onde cê quer chegar com isso?
    -Na parte que, caso aconteça alguma coisa e eu vá embora antes de você, pelo menos você teria seus direitos garantidos. Podemos nos casar com comunhão de bens, entendeu? Dessa forma, tudo o que é meu, também é seu. Inclusive parte das ações da minha casa lá no Rio.
    -É prudente. Nesse caso eu concordo, sim. Mas a gente pode mudar de assunto? Essa coisa de falar sobre morte me dá cada arrepio... você tá bem de saúde, não tá?
    -Claro que tou bem, amor! No que depender de mim, vivo mais ointenta anos ao seu lado, no mínimo. Mas é bom prevenir. Um casamento oficial entre nós garante que não estaremos desamparados em circunstância alguma.
    Os dois se abraçam. CORTA A CENA.

    CENA 10: A campainha da mansão dos di Fiori toca e Hugo se prontifica a atender.
    -Deve ser a Cris. Bem que estranhei ela não ter vindo ontem. Deixem que atendo. - fala Hugo.
    -Engraçado, Leopoldo... não tou com uma intuição boa sobre a Cristina... - confidencia Bernadete.
    -Deixe disso, querida... - fala Leopoldo.
    Hugo abre e se depara com Daniella.
    -Dani? Cadê sua irmã? Ela não teve como vir?
    -Não teve como vir. E nem terá como vir, Hugo. Podemos conversar a sós?
    -Por favor, vamos até meu quarto.
    Os dois chegam ao quarto de Hugo.
    -Então, Daniella... por que ela não vai ter como vir? Não entendi isso direito.
    -Olha, Hugo... eu nem sei como começar a dizer tudo isso, mas eu assumi o lugar dela na clínica por um tempo.
    -Oi? Mas onde isso me envolve? Pera... isso quer dizer que... é isso que tou pensando?
    -Não sei o que cê tá pensando. Mas se é sobre o casamento de vocês... não vai mais ter casamento.
    Hugo se choca. FIM DO CAPÍTULO 4.

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